O ano de 1991 foi um divisor de águas para a indústria dos videogames. Enquanto os consoles de 8 bits começavam a dar seus últimos suspiros, a era dos 16 bits finalmente se consolidava com o Super Nintendo chegando ao mercado estadunidense para desafiar o Mega Drive da Sega, que já havia conquistado uma parte do público. A rivalidade entre as duas empresas, que ficaria conhecida como a primeira grande “guerra dos consoles”, começava a esquentar e quem saía ganhando eram os jogadores, que testemunharam o surgimento de franquias lendárias.
No Japão, a Nintendo continuava sua dominância incontestável, enquanto a Sega tentava desafiar esse reinado com estratégias de marketing agressivas e jogos direcionados a um público mais maduro. Nos Estados Unidos, a Sega conseguia resultados expressivos, principalmente após o lançamento de um certo ouriço azul que se tornaria o mascote da companhia. Enquanto isso, o PC Gaming vivia sua própria revolução silenciosa com títulos que definiriam gêneros inteiros e influenciariam gerações de desenvolvedores.
No geral, 1991 foi um ano tão rico em lançamentos memoráveis que limitar esta lista a apenas 10 jogos seria fazer injustiça a muitas obras-primas. Franquias que até hoje movimentam bilhões de dólares surgiram naquele ano e mecânicas de jogo que consideramos essenciais até hoje foram introduzidas ou aperfeiçoadas naquela época. De RPGs épicos a beat ‘em ups viciantes, de jogos de luta revolucionários a plataformas inovadores, 1991 nos presenteou com games que, mais de três décadas depois, continuam sendo referência de qualidade e criatividade. Vamos relembrar 16 desses clássicos que marcaram época.
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16. Civilization
Quando Sid Meier concebeu Civilization, ele provavelmente não imaginava que estava criando não apenas um jogo, mas um gênero inteiro. Lançado em 1991 para MS-DOS, este título de estratégia por turnos colocou os jogadores no comando de uma civilização desde os primórdios da humanidade até a era espacial, estabelecendo as bases para o que conhecemos hoje como jogos 4X (eXplorar, eXpandir, eXtrair e eXterminar).

A grandiosidade de Civilization estava justamente em sua ambição: condensar milhares de anos de história humana em uma experiência interativa onde cada decisão do jogador altera o rumo da história. A liberdade para seguir diferentes caminhos para a vitória — seja através da conquista militar, do desenvolvimento tecnológico ou da influência cultural — foi uma proposta que balançou as estruturas de toda a indústria naquela época, quando a maioria dos jogos tinha objetivos lineares e predefinidos.
O impacto de Civilization na indústria é inestimável. Ele não apenas gerou uma franquia icônica que continua ativa até hoje, como também influenciou inúmeros desenvolvedores e outros gêneros de jogos. A célebre frase “só mais um turno”, que surgiu entre os jogadores viciados em Civilization, exemplifica perfeitamente como ele conseguia equilibrar sua complexidade com um loop de jogabilidade incrivelmente viciante. Em um ano dominado por consoles, Sid Meier provou que o PC tinha seu próprio ecossistema de jogos capazes de oferecer experiências profundas e duradouras.
15. Duke Nukem
Poucos personagens conseguem ser tão emblemáticos na história dos videogames quanto Duke Nukem. O primeiro jogo da série, lançado pela Apogee Software em 1991, era, na verdade, bem diferente do que a franquia se tornaria mais tarde. Duke Nukem começou como um jogo de plataforma 2D para PC, onde o protagonista loiro e de atitude irreverente enfrentava o malvado Dr. Proton em um mundo pós-apocalíptico.
Mesmo sem o visual 3D e as frases de efeito que marcaram o personagem em Duke Nukem 3D (1996), a personalidade do Duke já estava presente neste primeiro título. A combinação de ação frenética, design de fases criativo e o carisma do protagonista garantiram que o jogo se destacasse entre os muitos títulos de plataforma daquela época. A interface colorida e os gráficos detalhados também ajudaram o título a ganhar notoriedade.
Duke Nukem foi um dos primeiros sucessos da Apogee, ajudando a estabelecer o modelo de distribuição shareware que revolucionou a maneira como os jogos para PC eram comercializados. Esse modelo, onde parte do jogo era disponibilizada gratuitamente enquanto o restante precisava ser comprado, permitiu que desenvolvedores independentes conseguissem divulgar e vender seus jogos sem precisar de grandes publicadoras. Duke Nukem foi, portanto, não apenas o início de uma franquia icônica, mas também um precursor importante na democratização do desenvolvimento de jogos.

14. Sunset Riders
Em um ano repleto de arcades memoráveis, Sunset Riders da Konami se destacou ao trazer o Velho Oeste para os fliperamas com estilo e personalidade. Com sua estética colorida e caricata do faroeste, o jogo permitia que até quatro jogadores controlassem simultaneamente caçadores de recompensas em busca dos mais perigosos criminosos do oeste estadunidense.
O que fez Sunset Riders brilhar foi sua combinação perfeita entre acessibilidade e desafio crescente. Os controles eram simples — basicamente correr, pular e atirar —, mas os chefes e os níveis exigiam reflexos rápidos e coordenação entre os jogadores. Detalhes como poder montar em cavalos, diferentes tipos de power-ups e os célebres confrontos finais estilo “duelo ao pôr do sol” criavam uma experiência que capturava a essência dos filmes de faroeste de forma divertida e estilizada.
A versão para arcade foi tão bem-sucedida que logo ganhou conversões para Mega Drive e Super Nintendo, ajudando a consolidar o jogo como um dos melhores títulos de ação run-and-gun dos anos 1990. Mesmo em meio à era dourada dos beat ‘em ups e jogos de tiro, Faroeste, como ficou conhecido nas locadoras de todo o Brasil, conseguiu se destacar com sua temática única, personagens carismáticos (quem não lembra do “Bury me with my money!”?) e jogabilidade cooperativa refinada. Décadas depois, o jogo ainda é lembrado tanto pelos fãs de arcade quanto pelos colecionadores de consoles retrô.

13. Lemmings
Quando a DMA Design (que anos depois se tornaria a Rockstar North) lançou Lemmings para o Amiga em 1991, apresentou ao mundo um quebra-cabeça que desafiava a lógica convencional dos jogos de plataforma. Em vez de controlar diretamente um personagem, os jogadores tinham a tarefa de guiar um grupo de pequenos roedores suicidas para um local seguro, atribuindo funções específicas a cada um deles, como escavadores, construtores de pontes ou bloqueadores.
A simplicidade visual contrastava com a complexidade crescente dos desafios. Os primeiros estágios introduziam gentilmente os jogadores aos conceitos básicos, mas logo o jogo mostrava sua verdadeira face com níveis diabólicos que exigiam planejamento preciso e timing perfeito. O humor peculiar — especialmente quando você inevitavelmente falha e dezenas de lemmings explodem simultaneamente — trouxe uma camada de diversão absurda mesmo nos momentos mais frustrantes, que no futuro se tornaria marca registrada do estúdio.

O impacto de Lemmings foi tão grande que ele eventualmente foi portado para mais de 30 plataformas diferentes, um feito extraordinário mesmo para os padrões atuais. Seu design inovador inspirou inúmeros jogos de quebra-cabeça nos anos seguintes e provou que uma mecânica original pode superar limitações técnicas. Além disso, o sucesso comercial e crítico do título ajudou a colocar o estúdio escocês DMA Design no mapa, permitindo que eles eventualmente criassem outra “pequena” franquia chamada Grand Theft Auto.
12. Super Ghouls ‘n Ghosts
Poucos jogos na história dos videogames abraçaram a dificuldade como parte de sua identidade tanto quanto a série Ghosts ‘n Goblins, e Super Ghouls ‘n Ghosts levou essa filosofia ao extremo no Super Nintendo. Lançado como um dos primeiros títulos de destaque para o console de 16 bits da Big N, o jogo trouxe o cavaleiro Arthur de volta para mais uma jornada brutalmente difícil para salvar sua princesa das garras do Rei Demônio.

O salto para os 16 bits permitiu que a Capcom criasse cenários visualmente impressionantes, com muito parallax scrolling e detalhes que realmente traziam à vida o mundo gótico e macabro do jogo. Novos power-ups, como a armadura dourada que permitia magias especiais, adicionaram camadas estratégicas ao gameplay clássico. No entanto, o jogo manteve sua essência implacável: ser atingido uma vez deixava Arthur em roupas íntimas; um segundo golpe significava morte instantânea.
O verdadeiro golpe de mestre (ou de crueldade) de Super Ghouls ‘n Ghosts estava em seu infame twist: ao chegar ao final do jogo, os jogadores descobriam que precisavam refazer toda a jornada, em dificuldade aumentada, para realmente derrotar o vilão final. Esta decisão de design, embora controversa, consolidou a reputação do jogo como um dos maiores desafios de sua geração. Para muitos, completar Super Ghouls ‘n Ghosts se tornou um distintivo de honra, um marco de persistência e habilidade característicos da época e que poucos conseguiam alcançar.
11. Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time
Em uma época em que os beat ‘em ups dominavam os fliperamas, Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time conseguiu se destacar como um dos melhores do gênero. Lançado pela Konami quando a febre das Tartarugas Ninja estava no auge da cultura pop, o jogo era uma festa visual e sonora que capturava perfeitamente a essência da franquia.
Turtles in Time inovou ao incorporar elementos de viagem no tempo à narrativa, permitindo que os jogadores enfrentassem o vilão Shredder e seus capangas em diferentes períodos históricos. Cada fase tinha uma identidade visual distinta, desde o futurista ano de 2020 (que parecia bem distante em 1991) até o Velho Oeste e a era pré-histórica. A mecânica de arremessar inimigos contra a tela, explorando os recursos visuais do arcade, se tornou uma das marcas registradas do jogo.
A versão para Super Nintendo, lançada posteriormente como Teenage Mutant Ninja Turtles IV: Turtles in Time, é frequentemente citada como um dos melhores ports de arcade para consoles domésticos da época, tendo adicionado novas fases e chefes. Três décadas depois, o jogo continua sendo referência quando o assunto é diversão multiplayer cooperativo, com seu gameplay acessível e carisma inesgotável. Não à toa o game recebeu um remake em 2009 com gráficos 3D e cinemáticas reestilizadas.

10. Metroid II: Return of Samus
Após o sucesso do primeiro Metroid para o NES, a Nintendo enfrentou o desafio de criar uma sequência para o portátil Game Boy, com todas as limitações técnicas que isso implicava. O resultado foi Metroid II: Return of Samus, um jogo que, apesar das restrições do hardware em preto e branco, conseguiu expandir a mitologia da série e estabelecer elementos narrativos que permanecem cruciais até atualmente.
Metroid II introduziu pela primeira vez os diferentes estágios evolutivos dos Metroids, criaturas que dão nome à franquia, e estabeleceu uma estrutura de jogabilidade baseada em caçá-los sistematicamente pelo planeta SR388. A narrativa, embora simples, culminava em um dos momentos mais significativos da série: o encontro de Samus com o filhote de Metroid que a vê como sua mãe, cena que seria fundamental para a trama de Super Metroid e de jogos futuros.
A jogabilidade foi muito bem adaptada para funcionar nas limitações da pequena tela do Game Boy. A câmera mais aproximada e o foco nos ambientes claustrofóbicos criaram uma atmosfera de isolamento e tensão que compensava a impossibilidade de mostrar cenários mais amplos. Novas habilidades para a protagonista, como o Spring Ball e o Spider Ball, deram aos jogadores novas formas de navegar pelos labirintos do planeta. Embora muitas vezes ofuscado por seu predecessor e sucessor, Metroid II chamou a atenção por mostrar que era possível entregar uma experiência imersiva mesmo no limitado hardware do portátil na época.

9. Battletoads
Quando a Rare lançou Battletoads para o NES em 1991, muitos viram inicialmente apenas mais um clone de Teenage Mutant Ninja Turtles. No entanto, quem se aventurou pelo jogo rapidamente descobriu uma experiência brutalmente desafiadora que se tornaria lendária por sua dificuldade implacável. Os três protagonistas antropomórficos — Rash, Zitz e Pimple — se transformaram em ícones da jogatina hardcore.
O que realmente fez Battletoads se destacar foi sua incrível variedade de jogabilidade. Embora começasse como um beat ‘em up tradicional, o jogo constantemente introduzia novos estilos de gameplay: corridas em veículos em alta velocidade, descidas em cordas, fases de plataforma precisas e momentos de puzzle. A infame fase da moto, o terceiro estágio do jogo, é até hoje lembrada como um dos maiores desafios da história dos videogames, responsável por incontáveis controles quebrados.

Visualmente, Battletoads foi um marco técnico para o NES, com animações detalhadas que exploravam o hardware ao máximo. Os “smash hits” — golpes especiais em que os sapos transformavam partes de seus corpos em objetos gigantes como botas ou chifres — se tornaram uma marca registrada da série por seu estilo cartoon exagerado. Apesar (ou talvez por causa) de sua dificuldade notória, e mesmo testando a paciência dos jogadores, o jogo conquistou um status de cult que persiste até os dias atuais.
8. Fatal Fury: King of Fighters
Quando a SNK lançou Fatal Fury: King of Fighters nos arcades e para o Neo Geo em 1991, também lançou um dos jogos que se tornaria um dos principais pilares do gênero de luta. Desenvolvido pela equipe liderada pelo lendário Takashi Nishiyama (que havia trabalhado no primeiro Street Fighter), Fatal Fury trouxe inovações significativas para os jogos de combate um contra um.

Sua mais notável contribuição foi seu sistema de planos múltiplos de combate, permitindo que os lutadores se movessem entre o primeiro plano e o fundo do cenário para evitar ataques ou criar novas estratégias. Os três protagonistas iniciais — Terry Bogard, Andy Bogard e Joe Higashi — iniciavam sua busca por vingança contra Geese Howard, um dos vilões mais carismáticos dos jogos de luta, em uma narrativa bem desenvolvida e incomum para jogos do gênero na época.
Embora tenha sido lançado no mesmo ano que Street Fighter II, Fatal Fury conseguiu estabelecer sua própria identidade com controles mais acessíveis e uma atmosfera que misturava elementos de filmes de ação e animes. Seu impacto cultural foi tão contundente que deu origem à série The King of Fighters, que combinaria personagens de Fatal Fury com outros jogos da SNK, e inspiraria produções de anime e mangá. Terry Bogard, com seu icônico boné vermelho e frases de efeito como “Are you okay?” e “Burn Knuckle!”, se tornaria um dos personagens mais reconhecíveis da história dos videogames.
7. Mega Man 4
Em 1991, a Capcom já tinha estabelecido uma fórmula bem-sucedida para a série Mega Man, mas precisava encontrar formas de mantê-la fresca para evitar a fadiga que já começava a aparecer entre os fãs. Mega Man 4 foi a resposta da empresa, trazendo grandes novidades ao mesmo tempo em que preservava a essência que havia tornado os jogos anteriores tão populares.
A principal inovação foi a introdução do Mega Buster, uma versão carregável do canhão do Mega Man que permitia disparos mais poderosos quando o botão era pressionado por mais tempo. Esta mecânica simples transformou a dinâmica de combate, adicionando um elemento de timing e estratégia que complementava o já consagrado sistema de fraquezas dos chefes. Falando em chefes, Mega Man 4 apresentou alguns dos Robot Masters mais memoráveis da série, como Pharaoh Man e Skull Man, com visual e poderes marcantes.
O jogo também inovou ao expandir o universo narrativo da franquia, introduzindo o Dr. Cossack como aparente antagonista antes de revelar que ele era apenas mais uma vítima dos planos malignos do eterno vilão Dr. Wily. Esta reviravolta foi uma das primeiras tentativas da série de adicionar mais profundidade à sua história. Embora seja frequentemente ofuscado por seus predecessores na memória coletiva dos fãs, Mega Man 4 foi crucial na evolução da série, provando que havia espaço para inovação mesmo dentro de uma fórmula já estabelecida.

6. Super Castlevania IV
Quando o Super Nintendo foi lançado, a Konami sabia que precisava trazer sua aclamada série Castlevania para o novo hardware de uma forma que demonstrasse todo o poder do sistema de 16 bits. Super Castlevania IV não só atendeu a essa expectativa como a superou, mostrando como um jogo de plataforma de ação deveria ser.
O que imediatamente chamava a atenção era o controle aprimorado que os jogadores tinham sobre Simon Belmont. Diferentemente dos jogos anteriores da série, agora era possível atacar em oito direções com o chicote, que também podia ser brandido como uma espécie de escudo ou usado para se balançar em pontos específicos. Essa flexibilidade transformou completamente a jogabilidade e tornou os combates mais dinâmicos e estratégicos ao mesmo tempo que as plataformas se tornavam menos frustrantes.
Visualmente, Super Castlevania IV explorou ao máximo os recursos do SNES, com efeitos de rotação e escala (o famoso “Mode 7”), múltiplas camadas de paralaxe e ambientes detalhados que realmente capturavam a atmosfera gótica da série. A trilha sonora, combinando composições clássicas com novas faixas, é extremamente cultuada, aproveitando o chip de som superior do console. Graças ao salto evolutivo que apresentou, Super Castlevania IV continua sendo, para muitos, o auge da era “clássica” de Castlevania, antes da revolução metroidvania que Symphony of the Night traria anos depois.

5. Streets of Rage
Em 1991, a Sega precisava de exclusivos fortes para competir com a Nintendo e sua série Final Fight. A resposta veio na forma de Streets of Rage (Bare Knuckle no Japão), um beat ‘em up que não apenas igualava seu rival, mas em muitos aspectos o superava, tornando-se um dos jogos mais icônicos não só do Mega Drive, mas de toda aquela geração.

O que imediatamente se destacava em Streets of Rage era sua trilha sonora eletrônica composta por Yuzo Koshiro, que trazia influências de house, techno e dance music para o console de 16 bits da Sega. Num período em que a maioria dos jogos ainda apostava em composições mais tradicionais, as batidas pulsantes e sintetizadores de Koshiro criavam uma atmosfera urbana e noturna que complementava perfeitamente a ambientação de uma cidade dominada pelo crime.
A jogabilidade refinada permitia que até dois jogadores controlassem Axel, Blaze ou Adam em sua luta contra o sindicato do crime. Cada personagem tinha atributos distintos de velocidade, força e alcance, incentivando diferentes estilos de jogo. O sistema de especiais que sacrificava um pouco da energia do jogador para limpar a tela de inimigos foi uma inovação importante. Graças a isso, Streets of Rage se estabeleceu como um jogo cheio de personalidade e com estilo que refletia a estratégia mais “cool” e adulta que a Sega adotava em contraste com a imagem mais familiar da Nintendo. O sucesso foi tanto que a série ganhou duas sequências no próprio Mega Drive e, décadas depois, um revival aclamado com Streets of Rage 4.
4. Final Fantasy IV
Com Final Fantasy IV (lançado inicialmente como Final Fantasy II nos EUA), a Square inaugurou a era 16 bits para sua principal franquia com uma nova forma de contar histórias em JRPGs. Aproveitando as capacidades do Super Nintendo, o jogo apresentou uma narrativa emocionalmente carregada que acompanhava a redenção do Cavaleiro das Trevas Cecil, em uma profundidade narrativa até então inédita.
A principal inovação de Final Fantasy IV foi o sistema de batalha ATB (Active Time Battle), que substituiu o tradicional sistema por turnos por um híbrido em tempo real onde cada personagem agia quando sua barra de tempo enchia. Esta mecânica adicionou um elemento de urgência e estratégia às batalhas, forçando os jogadores a tomarem decisões rápidas. Aliado a isso, o jogo introduziu um sistema onde cada um dos muitos personagens jogáveis tinha habilidades únicas e específicas, incentivando o uso estratégico do grupo.
Final Fantasy IV também se destacou por sua trilha sonora composta por Nobuo Uematsu, que aproveitou ao máximo o chip sonoro do SNES para criar temas que intensificavam momentos dramáticos da história. Músicas como “Theme of Love” e “Battle with the Four Fiends” se tornaram clássicos instantâneos. O legado do jogo é tão significativo que ele é frequentemente citado como o momento em que os RPGs japoneses começaram a ser reconhecidos não apenas como jogos de progressão estatística, mas como veículos para contar histórias complexas e emocionalmente impactantes. É impossível imaginar a evolução narrativa de títulos como Final Fantasy VII sem o trabalho pioneiro realizado em Final Fantasy IV.

3. Sonic the Hedgehog
Em 1991, a Sega precisava de um mascote capaz de rivalizar com Mario e uma experiência de jogo que demonstrasse a superioridade técnica do Mega Drive sobre o NES. A resposta veio na forma de um ouriço azul com atitude rebelde e uma obsessão por velocidade: Sonic the Hedgehog. Desenvolvido pela recém-formada Sonic Team, o jogo foi um marco tecnológico e representou uma mudança filosófica no design de jogos de plataforma.
Enquanto Mario incentivava a exploração meticulosa, Sonic premiava a velocidade e o momentum. Os níveis eram projetados como verdadeiros parques de diversões com loops, rampas, catapultas e caminhos múltiplos que recompensavam tanto os jogadores que queriam apenas experimentar a velocidade alucinante quanto aqueles que buscavam segredos e colecionáveis. A física única do jogo, com a inércia sendo um elemento fundamental, dava uma sensação de controle que era simultaneamente desafiadora e gratificante.
Visualmente, Sonic the Hedgehog criava cenários coloridos e detalhados que se moviam em alta velocidade sem engasgar, algo que chamava muito a atenção e demonstrava a alta velocidade do processador do Mega Drive. A trilha sonora composta por Masato Nakamura, baixista da banda Dreams Come True, trazia melodias pop cativantes que complementavam perfeitamente a estética vibrante do jogo. O sucesso foi tão retumbante que Sonic rapidamente se tornou a face da Sega e um ícone cultural dos anos 1990, estrelando dezenas de jogos subsequentes, séries animadas e até mesmo um blockbuster de Hollywood.

2. Street Fighter II: The World Warrior
É difícil enxergar o impacto cultural que Street Fighter II causou quando chegou aos fliperamas no início de 1991. O jogo revitalizou os arcades, que começavam a perder espaço para os consoles domésticos, e criou o gênero de jogos de luta competitivos tal como o conhecemos hoje. A Capcom pegou os fundamentos estabelecidos no primeiro Street Fighter e os refinou até a perfeição.

A ideia de oferecer oito personagens jogáveis, cada um com movimentos especiais únicos e estilos de luta distintos baseados em diversas artes marciais e culturas do mundo, era revolucionária. Ryu e Ken com seus hadoukens e shoryukens, Blanka com sua eletricidade, Dhalsim com seus membros elásticos — cada lutador exigia uma abordagem diferente, criando um jogo com profundidade estratégica sem precedentes. O sistema de seis botões permitia uma variedade de socos e chutes com diferentes velocidades e potências, adicionando mais camadas à jogabilidade.
O impacto social de Street Fighter II foi tão significativo quanto suas inovações técnicas. Graças ao jogo, os arcades voltaram a reunir jogadores desafiando uns aos outros, formando comunidades e criando rivalidades lendárias. O jogo foi um fenômeno tão grande que recebeu múltiplas atualizações (Champion Edition, Hyper Fighting, Super) antes mesmo de seu sucessor numerado ser lançado. Quando finalmente chegou aos consoles domésticos, quebrou recordes de vendas e estabeleceu um novo padrão para ports de arcade. Street Fighter II foi o pontapé inicial de uma franquia bilionária e inspirou não só uma avalanche de jogos de luta nos anos seguintes, como estabeleceu convenções de design como a “meia-lua” para executar especiais até o formato de melhor de três rounds.
1. The Legend of Zelda: A Link to the Past
Se The Legend of Zelda estabeleceu a base da série e Zelda II experimentou com novos formatos, A Link to the Past foi o jogo que definiu o que Zelda significaria para gerações futuras. Lançado para o Super Nintendo em novembro de 1991 no Japão (e em 1992 nas Américas), o terceiro jogo da franquia aperfeiçoou a visão original de Shigeru Miyamoto e estabeleceu um modelo que seria seguido por décadas.
A Link to the Past retornou à perspectiva aérea do primeiro jogo, mas com gráficos coloridos e detalhados que deram vida a Hyrule como nunca antes. A introdução do conceito de mundos paralelos — o Reino da Luz e o Reino das Trevas — não era apenas uma genialidade narrativa, mas também um brilhante mecanismo de design que essencialmente duplicava o tamanho do mapa enquanto criava puzzles complexos que exigiam que o jogador pensasse nas diferenças entre as duas dimensões. Itens icônicos como o Hookshot e as Botas Pegasus apareceram pela primeira vez aqui, expandindo as possibilidades de navegação e combate.
A estrutura de dungeons intricadamente desenhadas, cada uma com seu próprio tema, item especial e boss desafiador, estabeleceu um padrão que seria seguido por praticamente todos os Zeldas seguintes. Ao mesmo tempo, o jogo oferecia um mundo aberto que encorajava a exploração, repleto de segredos, sidequests e personagens inesquecíveis. A narrativa, embora simples pelos padrões atuais, apresentava temas de sacrifício, coragem e destino que ressoariam através de toda a série. Mesmo depois de tanto tempo, a influência de A Link to the Past continua sendo sentida não apenas em jogos posteriores da franquia, mas em qualquer título que tente equilibrar ação, aventura e solução de puzzles em um mundo coeso e interconectado.

1991 redefiniu os videogames
Ao olharmos para 1991 em retrospectiva, fica claro que ele foi um dos anos mais importantes na história dos videogames. Em apenas 12 meses, vimos o nascimento de franquias que continuam relevantes mais de 30 anos depois, a consolidação de gêneros inteiros e uma revolução tecnológica que abriu novas possibilidades criativas.
A rivalidade entre Sega e Nintendo atingiu seu auge neste período, com ambas as empresas competindo ferozmente por market share e, mais importante, pela lealdade dos jogadores. Essa competição elevou o nível de qualidade dos jogos lançados, já que cada título precisava impressionar mais que o anterior. Enquanto isso, os PCs e arcades continuavam sendo plataformas de inovação, com experiências que não seriam possíveis nos consoles daquela geração.
Para desenvolvedores, jogadores e historiadores dos videogames, 1991 representa ponto de inflexão na indústria gamer — o momento em que os videogames começaram a se transformar na poderosa força cultural, artística e econômica que conhecemos atualmente.
16 jogos marcantes lançados em 1991
- The Legend of Zelda A Link to the Past: estabeleceu a fórmula clássica de Zelda, com seu mundo dividido entre Reino da Luz e das Trevas e dungeons meticulosamente projetadas
- Street Fighter II The World Warrior: criou o moderno gênero de luta com seu sistema de combate, oito personagens jogáveis com estilos únicos e uma competitividade que transformou fliperamas em centros sociais
- Sonic the Hedgehog: desafiou o reinado de Mario com gameplay baseado em velocidade, design de fases inovador e uma atitude rebelde típica dos anos 1990
- Final Fantasy IV: inaugurou o sistema de batalha ATB e trouxe personagens complexos e momentos emocionalmente impactantes
- Streets of Rage: combinou jogabilidade refinada com uma trilha sonora eletrônica que refletiam a estética urbana e “cool” da Sega
- Super Castlevania IV: reimaginou a clássica série da Konami com controles aprimorados, visuais que exploravam o hardware do SNES e uma atmosfera gótica memorável
- Mega Man 4: introduziu o Mega Buster carregável e expandiu o universo narrativo da franquia, duas inovações importantes que não sacrificaram a fórmula clássica da franquia
- Fatal Fury King of Fighters: primeiro jogo de luta da SNK que estabeleceu a rivalidade com Street Fighter II, introduzindo o sistema de múltiplos planos de combate e personagens icônicos
- Battletoads: notório por sua dificuldade brutal, combinava beat ‘em up tradicional com seções de jogabilidade variada, incluindo a infame fase das motos
- Metroid II Return of Samus: expandiu a mitologia da série e provou que jogos atmosféricos e não-lineares eram possíveis mesmo no limitado hardware do Game Boy
- Teenage Mutant Ninja Turtles Turtles in Time: combinou a mania das Tartarugas Ninja com gameplay acessível, visual colorido e inovações como a mecânica de arremessar inimigos contra a tela
- Super Ghouls ‘n Ghosts: trouxe visuais impressionantes e um design que exigia perfeição dos jogadores, incluindo a necessidade de completar o jogo duas vezes para ver o verdadeiro final
- Lemmings: inovou ao inverter a lógica dos games e fazer os jogadores guiarem pequenos roedores suicidas para a segurança, provando que ideias originais podiam superar limitações técnicas
- Sunset Riders: combinou run-and-gun com uma estética colorida e personalidade única, oferecendo ação cooperativa para até quatro jogadores simultaneamente no arcade
- Duke Nukem: o início de uma franquia de FPS irreverente como um jogo de plataforma 2D para PC, ajudando a estabelecer o modelo de distribuição shareware que revolucionou o mercado de jogos para computador
- Civilization: permitia aos jogadores guiar uma civilização desde a Idade da Pedra até a conquista espacial, criando o gênero 4X e provando que PCs podiam oferecer experiências profundas e viciantes
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