Você anda com a sensação de que os noticiários estão cada dia mais dominados por notícias de guerras, conflitos, ataques e disputas geopolíticas? É verdade que o mundo nunca foi um mar de rosas, mas a situação está, sim, se agravando de uns anos para cá. Os números mostram isso: não gastávamos tanto dinheiro em armamento desde a Segunda Guerra Mundial. Quem puxa a tendência são os Estados Unidos. Em 2024, foram 968 bilhões de dólares em gastos militares.
Além do “Efeito Trump”, como o GUIA DO ESTUDANTE explicou neste texto, grandes conflitos em curso influenciam nesse aumento de gastos, entre eles a Guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
Para quem se prepara para os grandes vestibulares, o assunto é inevitável. No ano passado, provas como o Enem, a Fuvest e a Unicamp abordaram os conflitos da contemporaneidade, incluindo aqueles que aparecem com menos frequência na mídia.
Veja algumas questões e teste se seria capaz de respondê-las!
1. UnB 2025 (adaptada)
Pelo menos não é mais segredo que as agências de inteligência há tempos utilizam as tecnologias de IA (inteligência artificial) para a espionagem, monitoram as nossas conversas captadas diretamente dos dispositivos que utilizamos para acessar a Internet e extraem as mensagens de texto, áudio e vídeo que postamos na rede.
W. Praxedes. Sociologia da inteligência artificial. In: Revista Espaço Acadêmico, v. 24, n.º 244, 2024, p. 181–191.
Tendo o texto precedente como referência, julgue os itens a seguir (verdadeiro ou falso), relativos ao contexto sociológico da realidade atual, marcada pelos avanços da tecnologia da informação.
- O uso militar da IA tem sido uma forma de contrabalançar o poder bélico entre os diversos países.
- A burocracia dos Estados Unidos da América e a da China possuem estreitos laços de colaboração com grandes corporações de IA.
RESOLUÇÃO
O vestibular da Universidade de Brasília (UnB) se baseia, em boa parte, na apresentação de diferentes textos ao estudante, pedindo que ele aponte se a alternativa é verdadeira ou falsa. Na questão acima, da prova de 2025, selecionamos duas das afirmações apresentadas em relação ao texto.
No caso da primeira, o candidato deveria refletir sobre o fato de que a lista de países com maior poderio militar coincide quase inteiramente com as dos que estão à frente no desenvolvimento da IA (inteligência artificial). E, como uma tecnologia abrangente, com amplo espectro de utilizações, a IA está sendo usada para diversos fins militares. Dessa forma, longe de “contrabalançar” o poder bélico entre os diversos países, a IA está sendo um fator de ampliação das desigualdades no poderio bélico entre as nações. Afirmação falsa.
Com relação à segunda afirmação, podemos partir do que se pode observar na recente posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos (que, claro, foi depois do vestibular, mas para nós agora serve como um bom exemplo). Os donos das principais empresas de tecnologia de informação norte-americanas estavam em lugar de destaque na cerimônia de posse, sem falar que o bilionário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), é um dos integrantes do governo Trump.
Há uma colaboração estreita das empresas de tecnologia com o aparelho de Estado, e particularmente com os órgãos de segurança, como FBI (polícia federal) e CIA (serviço de informação/ inteligência/ espionagem). Pode-se falar o mesmo da China, cujo governo controla o estado e integra setores estratégicos, como o das tecnologias avançadas. O desenvolvimento da IA é um dos pontos de disputa na tensa guerra comercial EUA x China, que opõe as duas maiores economias do mundo atual. Afirmação correta.
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2. Enem 2024
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) é, junto com a Assembleia-Geral, um dos principais órgãos de tomada de decisão dentro da entidade. O Conselho lida com questões de segurança e paz internacionais, além de recomendar a admissão de novos membros à Assembleia-Geral e aprovar mudanças na Carta das Nações Unidas. Cinco dos quinze membros são permanentes e podem vetar resoluções, o que ocorreu 261 vezes até 2020.
GOMES, L.; PRETTO, N. O funcionamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br. Acesso em: 10 nov. 2021 (adaptado).
A composição e o funcionamento do organismo internacional apresentados revelam a seguinte característica das relações internacionais entre os países-membros:
A – Igualdade militar.
B – Assimetria política.
C – Consenso multipolar.
D – Equilíbrio estratégico.
E – Soberania compartilhada.
RESOLUÇÃO
O funcionamento da ONU, principal organismo internacional no cenário mundial, dá a base a esta questão do Enem 2024. Mas, mesmo que o estudante não tenha muito conhecimento sobre o assunto, uma leitura atenta do enunciado permite o raciocínio para chegar à questão correta. Isso porque, em seu trecho mais importante, o enunciado explica que “cinco dos quinze membros são permanentes e podem vetar resoluções”.
Dando o contexto: a ONU foi criada no final da 2ª Guerra Mundial e os cinco membros permanentes de seu Conselho de Segurança (CS) são os países vencedores do conflito: Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China. Esses têm o poder de vetar qualquer decisão com a qual não concordem. Os demais dez países membros do CS são rotativos, eleitos pela Assembleia Geral para mandatos de dois anos (a cada ano, trocam-se cinco). Hoje, a ONU reúne quase todos os países do mundo, número próximo a 200.
Com base nisso, analisamos as alternativas: podemos descartar a A, pois, obviamente, não há igualdade entre o poderio militar dos diversos países do mundo; a E também deve ser afastada, pois não se pode falar de “soberania compartilhada” quando, entre duas centenas de países, apenas cinco possuem o poder de impedir resoluções contra os seus interesses.
Não se pode falar de “consenso” quando alguns países podem vetar, unilateralmente, qualquer decisão. Por exemplo, os EUA vetam resoluções condenando o Estado de Israel pelos ataques que já resultaram em mais de 40 mil mortes na Faixa de Gaza, e a Rússia veta qualquer moção que condene seu ataque à Ucrânia. Não há consenso, o que torna a letra C errada.
Num arranjo em que cinco países são privilegiados, tampouco pode-se falar de “equilíbrio” estratégico. Por motivos históricos variados, há um desequilíbrio, o que torna D incorreta.
Portanto, a certa é a alternativa B. A organização institucional da ONU, e particularmente de seu Conselho de Segurança, expressa uma situação de assimetria política: na ONU, os cinco membros permanentes do CS têm muito mais poder do que os demais.
+ Veja quais países do mundo tem missões de paz da ONU
3. UFRGS 2025
Em 13 de agosto de 2024, em São Paulo, faleceu Takashi Morita, aos 100 anos. Japonês, pacifista, sobrevivente da bomba atômica de Hiroshima (06/08/1945). Em 2017, Takashi Morita publicou o livro A Última Mensagem de Hiroshima. Na obra, aborda sua vida no Japão antes e depois da guerra – incluindo o dia da explosão e seus desdobramentos – e o recomeço no Brasil. Escreveu:
“Esse foi apenas o começo do dia. Então se passou mais uma situação estranhíssima: começou a cair do céu uma chuva preta e espessa. Eram pingos mornos e enormes, que chegavam a machucar quando entravam em contato com a nossa pele e caíam da enorme nuvem negra que encobria toda a cidade. […] Recebendo essa chuva negra, que não era óleo, mas uma chuva radioativa, a minha queimadura na nuca começou a arder ainda mais e ficou inchada”.
Nessa descrição, é possível perceber como o sobrevivente já sentia os efeitos da explosão ocorrida naquele dia. A bomba, que caiu às 08h15min da manhã, era um dos resultados do “projeto Manhattan”, dos Estados Unidos, no qual esteve envolvido Robert Oppenheimer. Os ataques atômicos dos EUA sobre o Japão foram um dos últimos capítulos do conflito iniciado na década anterior e amplificados após o ataque japonês à base de Pearl Harbor em 1941.
Com base nas informações acima, assinale a alternativa correta sobre a Segunda Guerra Mundial.
A – A rendição japonesa foi uma das consequências dos ataques atômicos a Hiroshima e Nagasaki, o que colocou o Japão sob domínio norte-americano até 1952.
B – A entrada do Japão no conflito está relacionada aos desdobramentos da segunda guerra sino-japonesa (1937-1945) e às pretensões nipônicas de restringir a presença política e militar dos Estados Unidos apenas à China.
C – Os conflitos ocorridos em território europeu não estão relacionados aos conflitos ocorridos entre os Estados Unidos e o Japão.
D – As armas nucleares, por conta do seu potencial destrutivo, deixaram de ser produzidas após os bombardeios dos Estados Unidos ao Japão terem sido considerados crimes de guerra.
E – Os sobreviventes ao ataque em Hiroshima tiveram sequelas por causa da exposição à radiação, como mutilações e leucemia, que ficaram restritas apenas às pessoas que estavam no local da explosão.
+ Hiroshima e Nagasaki: as primeiras vítimas da bomba atômica
RESOLUÇÃO
Com essa questão de seu vestibular 2025, a banca da UFRGS explora os conhecimentos dos candidatos sobre a participação do Japão na 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Dá como subsídio um depoimento que traz a data da bomba sobre Hiroshima, localizando também no tempo o ataque japonês a Pearl Harbour, estopim para a entrada dos EUA na guerra.
Analisando as possibilidades de respostas, podemos afastar facilmente a alternativa C, pois o conflito entre Japão e Estados Unidos integra a 2ª Guerra Mundial, iniciada em 1939, em território europeu, com a invasão da Polônia pela Alemanha. Em 1940, Alemanha, Itália e Japão firmaram uma aliança militar, chamado de Eixo, que, ao longo do conflito, opôs-se à aliança entre Reino Unido, EUA e União Soviética.
Devemos excluir também a letra B: o Japão já estava em conflito com a China desde 1931, com a ocupação da Manchúria, e em guerra aberta desde 1937. Mas seu objetivo era dominar o território chinês; os EUA não tinham presença militar significativa na Ásia no período anterior à guerra.
A alternativa D está errada, pois as armas nucleares continuaram a ser produzidas depois do encerramento da 2ª Guerra Mundial, até hoje em dia, e ao menos EUA, Rússia, França, Reino Unido, China, Coreia do Norte, Índia e Paquistão detêm arsenais nucleares. O bombardeio atômico em Hiroshima e Nagasaki, mesmo sendo considerado crime de guerra por especialistas na área (por violarem tratados assinados pelos próprios EUA, como a cláusula que proíbe ataques a populações civis), jamais foram julgadas por qualquer tribunal.
A alternativa E também está errada, pois os males causados pela bomba atômica ultrapassam em muito as pessoas presentes ao local da explosão: as novas gerações trazem mutações genéticas causadas pela radiação da bomba.
A resposta certa é a alternativa A: a explosão da bomba atômica sobre Hiroshima (6/8/1945) e Nagasaki (9/8/1945), matando mais de 170 mil pessoas, leva o Japão à rendição. Os Estados Unidos assumem o controle direto do Japão até 1952. Neste período, promulgaram uma nova Constituição e fizeram mudanças profundas na vida nacional.
4. Unicamp 2025
Para além das guerras Rússia-Ucrânia e Israel-Palestina, estão em curso, em quase todos os continentes, conflitos que retratam mutações geopolíticas aceleradas. Há um movimento de redefinição de fronteiras até então reconhecidas pela comunidade internacional e, de certo modo, protegidas por um complexo arcabouço normativo. Na América Latina, por exemplo, a Venezuela reivindica da Guiana a região de Essequibo, cujo limite fronteiriço foi definido há 125 anos.
(Adaptado de https://www.courrierinternational.com/article/analyse-depuis-les-guerres-com-ukraine-et-a-gaza-les-frontieres-ne-sont-plus-intangibles. Acesso em 06/06/2024.)
Tendo em vista seus conhecimentos e considerando o texto anterior, é correto dizer que a fronteira entre países é essencialmente
A – geométrica: trata-se de uma linha demarcada por formas geográficas tais como muros, cercas ou vias de circulação.
B – política: trata-se de uma zona definida por meio de disputas e acordos internacionais pelo direito de uso de um determinado território.
C – natural: trata-se de uma linha demarcada por meio de marcos geográficos tais como rios, mares, lagos, geleiras e montanhas.
D – técnica: trata-se de uma zona definida por tratados e convenções locais que protegem a soberania do Estado-nação.
+ Por que a Venezuela quer anexar o território da Guiana?
RESOLUÇÃO
Os dois conflitos citados de início pela questão, a guerra Rússia-Ucrânia e a disputa entre o Estado de Israel e os palestinos, são bons exemplos para responder a questão. O caso da Venezuela também, mas as suas circunstâncias são bem menos conhecidas.
Analisando-se as respostas, podemos descartar mais facilmente a alternativa A, pois a palavra “geométrica” sequer é coerente com a ideia de “muros e cercas”, e as fronteiras têm as mais diversas formas, desde linhas retas (como boa parte da fronteira entre Canadá e Estados Unidos) até os zigue-zagues das fronteiras do Brasil.
Podemos afastar também a letra C, já que, mesmo quando utiliza formações naturais para ajudar na delimitação de fronteiras, como rios, por exemplo em parte da fronteira do Brasil com o Paraguai (rio Paraná), são fatores históricos que definiram essa fronteira (lembre-se das aulas sobre o Tratado de Tordesilhas: a divisa entre América espanhola e portuguesa ficava próxima ao litoral de São Paulo, e foi “empurrada” centenas de quilômetros a oeste por diversos acontecimentos históricos).
Por fim, descartamos D, pois mesmo quando a definição final de fronteiras é consolidada em tratados, não se trata de um trabalho “técnico”: afinal, quem pode decidir qual é a fronteira entre Ucrânia e Rússia, por exemplo, senão os próprios países envolvidos, com o resultado das negociações sendo expresso em um tratado?
A resposta certa é a letra B: a fixação de fronteiras nacionais é uma questão “política”, resultante do desenvolvimento histórico (deslocamento de populações, confronto militar, pressão econômica) e fixada por acordo entre os países envolvidos.
5. Fuvest 2025
“Consiste em uma faixa de terra semiárida e árida que contorna a borda sul do Deserto do Saara e percorre a extensão da África no sentido leste-oeste. Atua como um cinturão que divide o continente africano em dois, a África majoritariamente islâmica, ao norte, e a cristã, ao sul. Englobando ao menos onze países, a região é lar para dezenas de grupos étnicos.”
VAGEN, Tor-Gunnar; GUMBRICHT, Thomas. UNEP/ONU, 2012 (Adaptado).
O texto descreve características da região denominada de
A – Chifre da África.
B – África Meridional.
C – África Setentrional.
D – Rift Valley.
E – Sahel.
RESOLUÇÃO
Nessa questão, a leitura atenta ajuda a avançar na resposta. Vemos que a região, cujo nome se pergunta, atravessa a África “no sentido leste-oeste” e divide o continente em dois, com a parte islâmica “ao norte”, e a parte cristã “ao sul”. Isso já permitiria afastar a alternativa B, pois a palavra “meridional” significa ao sul, e a alternativa C, pois a palavra “setentrional” significa ao norte.
Quem conhece, de forma genérica, o mapa africano, sabe que o “Chifre da África” é a ponta que se projeta no nordeste do continente, correspondendo principalmente ao território da Somália. Esse ponto isolado não atravessa a África de leste a oeste. Então a opção A está errada. Um pouco menos conhecida é a localização do vale do Rift (Rift Valley, em inglês), uma depressão (na verdade, região de separação de placas tectônicas) na região leste do continente, no sentido do sul (a partir de Moçambique) para o norte (até o Djibuti, no litoral do mar Vermelho), passando pelos grandes lagos africanos (Malauí, Tanganica e Vitória). A letra D está incorreta.
A resposta certa é a alternativa E. O Sahel é uma faixa semi-árida ao sul do deserto do Saara, que o acompanha desde o oceano Atlântico, a leste, até o mar Vermelho, a oeste.
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