Um estudo divulgado nesta quinta-feira, 6, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pela Nielsen BookData, traçou um panorama detalhado sobre o perfil e os hábitos dos consumidores de livros no Brasil. A pesquisa, que ouviu 16 mil pessoas com mais de 18 anos em todas as regiões do País, revelou dados importantes sobre quem compra, onde compra, e o que motiva a leitura no Brasil.
A pesquisa aponta que apenas 16% da população brasileira acima de 18 anos comprou pelo menos um livro (físico ou digital) nos últimos 12 meses. Ou seja, 84% não comprou nenhum livro nesse período. Este número é igual ao apurado pelo mesmo estudo em 2023, quando foi realizado pela primeira vez.
Entre aqueles que consomem livros no Brasil, as mulheres são maioria (61%), especialmente aquelas que compram mais de 10 livros por ano, sendo 62% deste grupo. Destaque para a Classe C, já que 46% das mulheres consumidoras de livros pertencem a este estrato social.
A maioria dos consumidores (42%) comprou entre 3 e 5 livros nos últimos 12 meses, posicionando os livros na quarta colocação no ranking de bens de consumo mais mencionados pelos respondentes, perdendo apenas para roupas, celulares e brinquedos. Com 16%, ganha, por exemplo, de categorias como televisão (15%), vinhos (15%), jogos de apostas (11%) e apostas esportivas (10%).
A economista Mariana Bueno, responsável pela pesquisa, aponta que há demandas que podem elevar o consumo de livros no Brasil no futuro. “Há demanda para crescer. A gente tem que que entender esse potencial. É claro que a gente tem alguns entraves, como a renda, por exemplo, mas tem gente que não compra, mas está lendo”, explica.
O estudo aponta que, entre os 84% de não compradores de livros, 32,4% leram, seja em PDF gratuitos ou livros digitais pirateados.
Outro dado que denota esta demanda é o nível de importância que não consumidores dão aos livros. Entre os respondentes, 61% reconhecem que a leitura é uma atividade muito importante; outros 23% responderam que é uma atividade importante. Destes, 31% dizem que tem a intenção de ler com mais frequência e outros 28% responderam que consideram uma meta para aumentar a frequência ainda neste ano.
O preço do livro e a sua percepção de valor
O preço do livro se tornou um debate nacional. Enquanto muitos leitores usam as suas redes para criticar o aumento dos livros, as editoras apontam os crescentes custos de produção. Equacionar a questão é um dilema.
No entanto, a pesquisa mostra que, entre aqueles que já consomem livros, 48% acham que os livros de entretenimento e lazer não são nem caros e nem baratos. Percepção parecida entre os que compram livros infantis e juvenis. Para 40% deles, os livros desta categoria não são nem caros e nem baratos.
A situação muda de figura quando olhamos para os livros escolares e para aqueles voltados para aprimoramento pessoal e profissional. Para 55% dos consumidores de livros didáticos, assim como para 41% dos compradores de livros acadêmicos e profissionais, os livros são considerados caros.
A percepção sobre o preço varia entre os grupos econômicos, com as classes A e B sentindo mais o peso do preço do que as classes C e DE.
Como os consumidores compram seus livros?

O estudo também indica que 55% dos consumidores preferem comprar livros on-line, enquanto 39% optam por lojas físicas. A preferência por lojas on-line é mais forte no Nordeste. Para Mariana Bueno, esta escolha está diretamente relacionada à quantidade de pontos físicos de vendas de livros na região. De acordo com o Anuário de Livrarias da Associação Nacional de Livrarias, a região é a segunda que tem a menor concentração per capita de livrarias: uma para cada 171 mil habitantes.
Em um cenário hipotético em que o livro tivesse o mesmo preço tanto em plataformas digitais quanto em livrarias físicas, a maioria (49%) dos consumidores preferiria comprar livros fisicamente.
Lei Cortez em debate
Para Sevani Matos, presidente da CBL, este dado poderá ser usado na argumentação em favor da Lei Cortez, uma pauta que mobiliza boa parte do setor editorial no Brasil. A lei quer regulamentar o preço do livro no Brasil, buscando a equidade entre livrarias físicas e on-line, que passariam a praticar o mesmo preço ao consumidor final no primeiro ano de vida do livro.
“Temos feito um trabalho de comunicação bastante importante para mostrar como a Lei Cortez funcionaria. Acredito que este dado seja um argumento que possa ser levado para Brasília. Temos que buscar estímulos para que empreendedores pensem em abrir uma livraria. Muitos empreendedores não conhecem ou têm medo de investir numa loja física e perder para o on-line”, defendeu Sevani durante a coletiva de imprensa para apresentação da pesquisa na manhã desta quinta-feira.
A maioria (56%) dos consumidores adquiriu exclusivamente livros físicos, enquanto 14% optaram somente pelo formato digital. Uma fatia importante, 30%, são leitores híbridos e compraram tanto livros físicos quanto digitais.
Tanto para os compradores em livrarias quanto para aqueles que compram nas lojas digitais, as categorias mais buscadas foram: não ficção para adultos, ficção adulta e científico, técnico e profissional, com pequenas variações percentuais.