
Em janeiro de 2022, Sergio Mattarella, então com 80 anos, foi reeleito presidente da Itália. O político concordou em permanecer no cargo mesmo sem ter se candidatado à reeleição, atendendo a pedidos do parlamento, que não conseguiu chegar a um consenso sobre um nome para sucedê-lo. Na época, o país começava a se recuperar a duras penas da crise gerada pela pandemia de Covid-19.
Discreto, conciliador, firme e com ampla aceitação popular — pesquisas mostraram que mais de 60% dos italianos desejavam sua reeleição — Mattarella emergiu como a escolha ideal para manter a credibilidade da economia italiana.
No contexto do parlamentarismo italiano, o primeiro-ministro, ou premiê, detém o maior poder, chefiando o governo e coordenando o trabalho de todos os ministros. Por outro lado, o presidente da república, que é o chefe de Estado, não atua diretamente na gestão do Executivo, mas desempenha um papel crucial na manutenção da ordem institucional.
Para isso, possui o poder de dar a última palavra na escolha do primeiro-ministro e de dissolver o parlamento em situações de crise — uma ação que Mattarella utilizou em julho de 2022, logo após a renúncia do então premiê, Mario Draghi. Viúvo desde 2012, Sergio Mattarella é pai de três filhos e avô de seis netos.
Quem é Sergio Mattarella
Sergio Mattarella nasceu em Palermo, na Sicília, em 23 de julho de 1941. Desde cedo, sua vida foi influenciada pelos compromissos políticos de seu pai, que foi parlamentar e ministro, o que levou a família a se mudar para Roma durante sua infância. Na capital italiana, ele teve seu primeiro contato com a política, participando de movimentos estudantis. Em 1964, formou-se em Direito pela Universidade La Sapienza de Roma e, em 1967, retornou à sua cidade natal para exercer a advocacia, enquanto lecionava Direito Parlamentar na Universidade de Palermo.
A tragédia marcou sua vida em 1980, quando seu irmão mais velho foi assassinado pela Cosa Nostra, a máfia siciliana. Esse evento despertou ainda mais seu interesse pela política, levando-o a se filiar ao partido Democracia Cristã (DC) e a ser eleito deputado pela primeira vez em 1983. Ao longo de sua carreira, Mattarella cumpriu sete mandatos como deputado, intercalando-os com cargos de ministro de Relações com o Parlamento na gestão de Ciriaco de Mita (1988 a 1989) e ministro da Educação na gestão de Giulio Andreotti (1989 a 1992). Em 1992, tornou-se secretário do Democracia Cristã e participou da criação do Partido Popular Italiano (PPI) em 1994.
Além desses papéis, ocupou cargos como vice-presidente do Conselho de Ministros (de 1998 a 1999) e ministro da Defesa (de 1999 a 2000). No parlamento, Mattarella foi ativo em comissões que abordavam temas como crime organizado, máfia, terrorismo e reformas institucionais. Em 2007, ajudou a formar o atual Partido Democrático, mas abandonou a legenda em 2009 para manter a imparcialidade, pois planejava se dedicar à magistratura. Em 2011, foi nomeado juiz da Corte Constitucional italiana, onde atuou até 2015.
Eleição para a presidência da Itália
Com o fim do mandato de Giorgio Napolitano em 2015, Sergio Mattarella foi escolhido pelo parlamento como presidente da Itália. Desde o início de seu primeiro mandato, sua postura antifascista ficou evidente. Sua primeira ação como presidente foi visitar as Fossas Ardeatinas, um mausoléu em Roma que simboliza a resistência republicana. Desde então, Mattarella se mostrou incisivo na defesa da União Europeia e da democracia, como demonstrou em 2018, ao rejeitar a nomeação do economista Paulo Savona para o Ministério da Economia no primeiro governo de Giuseppe Conte. Savona, que defendia a saída da Itália da Zona do Euro, contrariava os princípios de Mattarella, que afirmou: “O presidente da República não é um mero tabelião que se limita a assinar o que lhe colocam sobre a mesa. Menos ainda quando se trata de um economista que defende a possibilidade de que saia do euro um dos países fundadores da União Europeia.”
Outro momento significativo ocorreu em janeiro de 2021, após a renúncia de Giuseppe Conte. Com a Itália enfrentando uma grave crise econômica e sem consenso sobre quem o substituiria, Mattarella exerceu sua autonomia como presidente para nomear Mario Draghi como novo chefe de Governo. Sua atuação durante a pandemia de Covid-19 consolidou o respeito e a ampla aprovação da população italiana, sendo um dos primeiros chefes de Estado do mundo a reconhecer a gravidade da situação e a incentivar medidas de precaução contra a contaminação.
Em julho de 2024, Sergio Mattarella esteve no Brasil para comemorar os 150 anos da imigração italiana. Durante sua visita, expressou a percepção de uma “grande convergência de valores, perspectivas e projetos para o futuro” em seu encontro com o Presidente Lula.
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