À primeira vista, parecem apenas pedaços aleatórios de ossos. Mas, para paleontólogos e arqueólogos, os artefatos recém-encontradaos na Tanzânia, na África Oriental, e descritas na última quarta (5) em um artigo na revista Nature, são a prova das notáveis habilidades cognitivas de nossos ancestrais distantes, que criaram ferramentas feitas de ossos para a caça.
Escavações na região, conhecida como Garganta de Olduvai, revelaram 27 fragmentos de ossos de animais (a maioria de elefantes e hipopótamos) que foram adaptados para ferramentas. A datação por radiocarbono aponta que as peças foram feitas há cerca de 1,5 milhão de anos – quando a nossa espécie, Homo sapiens, ainda não existia.
A descoberta “lança nova luz sobre o mundo quase desconhecido da tecnologia óssea dos primeiros hominídeos”, escreveram os autores do estudo.
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As ferramentas devem ter sido feitas por humanos ancestrais de espécies que já foram extintas, também chamados de hominíneos (sim, com “n” mesmo. O grupo dos hominídeos, do qual você pode já ter ouvido falar, inclui todos os hominíneos e também os grandes primatas, como gorilas, chimpanzés e orangotangos).
O desenvolvimento de ferramentas é considerado um passo fundamental na evolução humana. Acredita-se que as pedras esculpidas tenham surgido em culturas mais antigas do que o nosso próprio gênero Homo para retirar mais tutano e carne das caças. A consequente melhora na nutrição pode ter desempenhado um papel importante no sucesso evolutivo.
Até então, as evidências mais antigas de ferramentas feitas de ossos eram muito escassas, restritas a locais específicos na Europa, entre 400 mil e 250 mil anos atrás. As ferramentas encontradas variam entre 20 e 40 centímetros de comprimento, algumas pesando até um quilo.
“Há um desejo claro de mudar a forma do osso para transformá-lo em ferramentas muito pesadas e longas”, disse à agência AFP Francesco d’Errico, arqueólogo da Universidade de Bordeaux, na França, e coautor do estudo. “Em alguns casos, há até mesmo entalhes no meio do osso, possivelmente para que eles pudessem segurá-lo melhor em suas mãos.”
“Essa inovação pode ter tido um impacto significativo na complexificação dos repertórios comportamentais de nossos ancestrais, incluindo melhorias na cognição e nos modelos mentais, na curadoria de artefatos e na aquisição de matéria-prima”, afirmou Ignacio de la Torre, principal autor do estudo, em comunicado.
Não se sabe exatamente qual era o uso das ferramentas. A equipe de pesquisa sugeriu que elas podem ter sido empregadas para o abate de animais, e depois foram substituídas por ferramentas de pedra mais eficazes e pesadas à medida que a tecnologia continuou a se desenvolver.
Não se sabe o que aconteceu nos 1 milhão de anos que separam o registro recém-encontrado e os outros que eram considerados os mais antigos anteriormente. A tecnologia de ferramentas de ossos pode ter se transformado, se espalhado ou até mesmo ter morrido antes de ser reinventada em outra parte do mundo.
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