
A ata da reunião do Copom da última quarta-feira (19), divulgada hoje, veio na mesma linha do comunicado divulgado logo após o anúncio da nova alta de 1 ponto percentual na Selic, reforçando o alerta sobre o cenário ainda adverso para a inflação, com uma ponderação sobre a possível desaceleração econômica. Assim, no entendimento dos economistas, foi reforçada a expectativa de ao menos mais uma alta de juros (em ritmo mais brando), na reunião de maio.
A decisão de junho, no entanto, não é consenso entre os especialistas, uma vez que o recado sobre fim próximo do ciclo de ajuste na Selic foi reforçado.
Para a XP, a comunicação do BC na ata aponta que uma pausa está chegando, mas também que ainda é necessário mais aperto monetário antes dessa decisão ser tomada.
“O documento manteve o mesmo tom vigilante do comunicado pós-reunião, reforçando a necessidade de aperto monetário adicional para trazer a inflação para a trajetória da meta. Ao mesmo tempo, sugere que o tempo para um período de ‘esperar para ver’ está chegando”, diz em relatório.
A XP destacou trechos da ata como o reconhecimento pelo BC que o “cenário de inflação de curto prazo permanece adverso” e também o tom cauteloso adotado ao se referir à atividade econômica, ao descrever uma “moderação incipiente no crescimento”.
Também foi mencionada a importância dada às “políticas fiscais e monetárias harmoniosas”. “Em nossa opinião, é um sinal claro de que o Comitê está preocupado com medidas de política econômica que possam atenuar os efeitos de taxas de juro mais elevadas, o que exigiria, como entendemos, uma política monetária mais restritiva”, diz a XP.
Segundo a análise, apesar de o Copom ter reforçado “as defasagens inerentes ao ciclo monetário em curso”, o que poderia ser visto como um sinal de que o BC poderia interromper o ciclo após maio, a XP acredita que os diretores vão acabar optando por estender o ciclo até junho. “Afinal, as previsões de inflação provavelmente continuarão acima da meta no horizonte relevante para a política monetária até lá”, justifica o texto.
“Acreditamos que a ata de hoje é consistente com o nosso cenário de taxa Selic terminal em 15,50%, com altas de 75 pb e 50 pb em maio e junho. Se a atividade econômica desacelerar mais do que nós e o Copom prevemos, eles podem optar por um ritmo menor em maio (alta de 50 pb). Mas vemos como improvável uma taxa Selic terminal abaixo de 15,00%”, projeta.
Já o Bradesco também viu o reforço da cautela na comunicação do BC, portanto mantendo tom mais “hawkish” do comunicado da semana passada, sem apresentar contrapontos relevantes à continuidade do aperto monetário. “Expectativas desancoradas, repasse cambial, serviços ainda pressionados e hiato positivo sustentam o cenário adverso para o Copom. O Comitê reafirmou a redução de magnitude no próximo ajuste de juros, explicitando que esse ciclo não acabou.”
“A ata é consistente com um Copom comprometido com a continuidade do ciclo de aperto. Dada a ausência de contrapontos relevantes e a preocupação com os riscos inflacionários altistas, entendemos que um juro terminal de 15,25% é compatível com a comunicação atual”, diz o banco.
Estouro da meta em junho
Para o Goldman Sachs, a ata está alinhada com a postura cautelosa da declaração de política pós-reunião. “O cenário de inflação continua desafiador e, sob a nova estrutura, a meta de inflação provavelmente será violada em junho. Sobre a atividade, os sinais do conjunto de dados são mistos e não suportam conclusões claras sobre o ritmo atual e futuro da atividade real”, afirma o banco de investimentos em sua análise.
“Em nossa avaliação, o Copom ainda está longe de ter vencido a batalha contra a inflação. Como tal, não deve colocar muito peso na dinâmica do crescimento doméstico e na incerteza global. O ciclo de aperto continuará até o 2º trimestre de 2025, dado o ambiente de inflação ainda muito desafiador e as previsões de inflação elevada e a convergência da inflação para a meta muito provavelmente não acontecerão em 2026”, diz o Goldman Sachs.
Para o banco, o reequilíbrio macro exige uma postura fiscal mais rígida e metas fiscais mais altas, em particular, mas isso é altamente improvável. “Em suma, esperamos que o ciclo de alta continue no 2º trimestre, com a previsão de que a taxa Selic atinja um pico de 15,00% em junho e com espaço limitado, se houver, para cortes de juros no final de 2025.”
O Itaú, por sua vez, comenta que o Copom sinaliza que vai desacelerar o ritmo de aperto, em vez de pausar o ciclo, levando em conta os efeitos defasados de movimentos de política monetária anteriores. “Mas o fato de que, mesmo descartando a ideia, os formuladores da política se referem ao fim do processo de ajuste, pode ser visto como um sinal de que essa discussão está viva dentro do Comitê.”
O banco ainda acredita que o Copom implementará mais duas altas, para encerrar o ciclo com a Selic em 15,25% ao ano.
Ao ponderar as explicações do Copom na ata, Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, avalia que o Comitê vê a desaceleração da economia doméstica como essencial para a convergência da inflação à meta, mas que os dados recentes são de moderação incipiente. “Mantemos nosso call de alta de 75 bps em maio, mas reconhecendo que o mercado deve manter a precificação mais próxima de 50 bps e esperar as falas dos membros do Copom.”
Estímulo ao crédito preocupa
Já na opinião de Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, de novidade, a ata elaborou um pouco mais sobre o risco da interferência do governo no crédito, que é o principal canal de transmissão da política monetária mais restritiva.
“A recente expansão do crédito direcionado, outros subsídios e interferências, por exemplo a manutenção do cap do consignado do INSS mesmo com as recentes elevações da Selic, obstruem o canal de transmissão da política monetária e encarece seu custo, levando a taxas mais altas por mais tempo”, alerta.
Rafaela diz manter a avaliação de que a indicação de uma redução no ritmo sinaliza que o fim do ciclo estaria próximo. “Na nossa visão, haverá mais uma alta de 0,50 p.p., pausando em 14,75%. No entanto, a política monetária deve ficar restritiva por mais tempo, ou seja, devemos ver espaço limitado para cortes modestos entre o final de 2025 e começo de 2026. O risco doméstico de potencial nova expansão fiscal é o principal risco no cenário.”
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, afirma que, mesmo diante do tom mais “hawkish” da ata, o texto é consistente com o cenário de taxa Selic atual. “Esperamos uma alta de 0,50% em maio e uma final de 0,25% em junho, com a Selic terminando o ciclo em 15,0%. Para o fim do ano, esperamos um corte de 0,5% na reunião de dezembro, com a Selic terminando o ano em 14,50%.”
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o BC mostrou estar muito longe de confirmar a desaceleração da atividade ou celebrar algum eventual benefício da desaceleração sobre a inflação. “Na condução da política monetária, o BC se colocou dependente dos dados, além de aguardar os efeitos defasados da política monetária. Ata neutra em relação ao comunicado, seguimos apostando em apenas mais uma alta de 0,50% na reunião de maio.”
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