
O número de americanos que decidiram garantir um “plano B” ao solicitar a cidadania britânica atingiu um recorde histórico no último ano, impulsionado pela reeleição de Donald Trump.
Um total de 6.131 cidadãos dos EUA aplicaram para obter a cidadania do Reino Unido em 2024, um aumento de 26% em relação a 2023, segundo dados do Ministério do Interior britânico divulgados na última semana.
O número disparou no último trimestre do ano, coincidindo com a vitória de Trump nas eleições e o anúncio do governo britânico sobre mudanças fiscais que podem ter incentivado americanos a buscar sua cidadania mais rapidamente.
“Uma parcela significativa desses americanos provavelmente já tinha o direito à cidadania britânica há anos. Mas, diante do cenário político, alguns podem ter sentido que agora é a hora de garantir esse direito”, disse Ed Wanambwa, sócio do escritório de advocacia Russell-Cooke, especializado em imigração para o Reino Unido, à revista Fortune.
Fuga política e busca por estabilidade
Além dos cidadãos americanos que já tinham direito à cidadania, Wanambwa destaca um novo fenômeno: um crescente interesse de americanos que, sem elegibilidade direta, agora buscam maneiras alternativas de se mudar para o Reino Unido. “Eles querem pelo menos entrar no país e sair dos EUA”, disse ele.
O Reino Unido sempre foi um destino atraente para americanos por conta de sua história compartilhada e do prestígio de seu sistema educacional. No entanto, fatores políticos podem estar impulsionando essa nova onda migratória.
Enquanto muitos inicialmente viam esse movimento como uma reação impulsiva à reeleição de Trump, os números indicam que o interesse tem se mantido estável.
Dados do governo britânico mostram um crescimento constante nos pedidos de cidadania por americanos desde o final de 2022. Essa tendência ficou evidente a partir de novembro, quando as buscas no Google e consultas jurídicas sobre emigração dispararam.
Um estudo da Casino.org apontou que os três destinos mais procurados pelos americanos para emigração foram Canadá, Reino Unido e Japão.
A tendência também se refletiu na Europa, onde países populares entre nômades digitais e turistas registraram aumento expressivo nas consultas sobre vistos logo após a vitória de Trump. Segundo a CNN, a empresa de imigração espanhola Bureaucracy.es registrou um aumento de mais de 300% nas consultas sobre processos de visto.
A postura rígida de Trump em relação à imigração tem sido um dos pilares de seu discurso político. Ele defende deportações em massa e um endurecimento contra a imigração ilegal. Além disso, prometeu acabar com a cidadania automática para filhos de imigrantes nascidos nos EUA – embora a medida tenha sido bloqueada por três juízes federais até agora.
Atração pelo Reino Unido
O processo de obtenção da cidadania britânica depende de vários fatores, como o tempo de residência no país.
Embora o número de americanos solicitando cidadania tenha sido incomum no último ano, eles não lideraram o ranking de nacionalidades mais frequentes entre os requerentes.
Em 2024, os pedidos de cidadania de todas as nacionalidades no Reino Unido atingiram um recorde histórico, crescendo 6% e ultrapassando 251 mil solicitações. Os paquistaneses foram o grupo com mais pedidos aprovados.
As políticas do Reino Unido podem ter contribuído para o aumento do interesse americano. O governo britânico anunciou o fim do sistema de residência fiscal “non-dom”, que beneficiava estrangeiros ricos com domicílio permanente fora do país.
A estrutura será extinta em abril, mas a chanceler Rachel Reeves sugeriu que pode estender a transição para até três anos. A mudança pode ter levado alguns americanos ricos a buscarem a cidadania para garantir vantagens fiscais.
Segundo Wanambwa, há diferentes caminhos que americanos podem seguir para se estabelecer no Reino Unido, desde vistos de estudante até permissões de trabalho.
Até três anos atrás, o Visto de Investidor “Tier 1” permitia que americanos ricos investissem £2 milhões ou mais no país para obter residência. No entanto, esse visto foi eliminado por suspeitas de abuso.
Agora, com Trump propondo um “Visto Cartão de Ouro” que oferece residência permanente nos EUA em troca de um investimento de US$ 5 milhões, a volta desse tipo de programa no Reino Unido pode deixar de ser apenas uma ideia do passado.
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