CECOT, Centro de Confinamento do Terrorismo, é uma prisão em El Salvador criada para abrigar membros de gangues condenados. Criada em 2022, a prisão é a maior das Américas, com capacidade para até 40 mil pessoas. Lá dentro, as visitas, educação, recreação e atividades ao ar livre são completamente banidas. Os detentos são oriundos principalmente de gangues salvadorenhas.
Apesar de El Salvador ter uma população de 6 milhões de pessoas – menos de um terço da Região Metropolitana de São Paulo – o país tinha as taxas de criminalidade mais altas do continente. O presidente Nayib Bukele foi eleito em 2019 após promessas de combater intensamente a corrupção e as gangues do crime organizado.
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O combate intenso às gangues começou em março de 2022. A partir desse período, 70 mil pessoas foram presas em 16 meses – o equivalente a 2% da população do país. Hoje, o país tem a maior taxa de encarceramento do mundo: cada 100 mil habitantes, 1.659 estão presos (no Brasil, são 408).
Nos últimos três anos, Bukele governou com poucos controles sob um “estado de exceção” autoimposto, que permitiu que o presidente suspendesse muitos direitos enquanto empreendia o que chama de “guerra contra as gangues”.
Organizações de direitos humanos afirmam que as prisões em massa em El Salvador são arbitrárias e ocorrem sem o devido processo legal, e que o governo está prendendo qualquer pessoa que se encaixe em características demográficas estereotipadas de membros de gangues, como ter tatuagens, antecedentes criminais ou até mesmo “parecer nervoso”.
Com a reeleição do presidente norte-americano Donald Trump, Bukele ofereceu sua infraestrutura para abrigar “criminosos americanos perigosos” e “criminosos de qualquer país”. No dia 17 de março de 2025, os EUA deportaram mais de 250 imigrantes venezuelanos para o CECOT, sob a justificativa de uma lei do século 18 que foi usada apenas três vezes na história dos EUA.
A lei exige que o presidente declare que os EUA estão em guerra, o que lhe dá poderes extraordinários para deter ou remover estrangeiros que, de outra forma, teriam proteção de acordo com as leis de imigração ou criminais.
Trump alegou que a gangue Tren de Aragua estava invadindo os EUA para invocar a autoridade de tempo de guerra. Mae ele não identificou os migrantes deportados, não forneceu nenhuma evidência de que eles sejam de fato membros da gangue ou sequer que tenham cometido algum crime nos EUA.
A taxa de transferência de detentos para uma mega-prisão salvadorenha recém-construída “seria relativamente baixa” para os EUA, mas suficiente para tornar “todo o sistema prisional de El Salvador sustentável”, escreveu Bukele em uma postagem no X (antigo Twitter) em 3 de fevereiro de 2025. A “hospedagem” de 300 detentos norte-americanos durante um ano deve custar US$ 6 milhões (cerca de R$30 milhões).
Como é a vida dentro do CECOT, em El Salvador?
Essa enorme prisão é composta por oito pavilhões separados, espalhados por 165 hectares. Cada par de pavilhões é cercado por dois muros separados de 3 metros de altura com arame farpado. Ao redor de tudo isso, há um muro imponente de 9 metros de altura que, além de abrigar 19 torres de vigilância, conta ainda com uma cerca elétrica de 3 metros de altura e 15 mil volts.
O sinal de telefone é bloqueado em um raio de 2 quilômetros ao redor do CECOT, e mais de 600 guardas vigiam o perímetro. Mas não é só o contato por telefone que é restrito: as visitas externas também são totalmente proibidas.

Para cuidar de milhares de detentos com tanta rigidez, uma baita infraestrutura é necessária. A prisão tem mil funcionários. O sistema de esgoto e de eletricidade é isolado do resto da cidade – no caso de um apagão, por exemplo, o CECOT consegue se sustentar com energia própria por uma semana.
Quando atingir sua capacidade completa, cada detento terá direito a meio metro quadrados de espaço pessoal em sua cela, que é dividida com outros 80 a 150 detentos. Cada pavilhão tem 32 celas e um largo corredor central.
Não há janelas e os detentos não têm nenhum tempo fora da cela, nem para banho de sol. A única exceção ocorre uma vez por semana, quando eles fazem uma hora de exercício físico no corredor do pavilhão. Alguns deles passarão o resto de suas vidas sem saírem dessa construção.
Cada cela tem dois vasos sanitários e um espaço para banho. Sem água encanada, eles podem lavar as mãos em uma pequena bacia de plástico que serve para todos e beber água de um galão. A cada duas semanas, todos os detentos têm os cabelos e barbas raspados pela administração, que alega motivos de higiene e segurança.

O teto das celas é uma grade por onde vigias podem andar e vigiar os detentos a qualquer momento. As luzes permanecem acesas o tempo inteiro, dia e noite. Outra constante é o menu, que se repete todos os dias: arroz com feijão no café da manhã, arroz com macarrão e tortillas no almoço e no jantar.
Relatórios de organizações internacionais, como a Anistia Internacional e a Cristosal, afirmam que os detentos são espancados regularmente por funcionários, e não recebem medicamentos, mesmo quando estão disponíveis. As punições por mau comportamento frequentemente incluem privação de alimentos, choques elétricos e abrigo por semanas em celas solitárias sem luz nem ventilação.
A Cristosal estima que centenas de pessoas tenham morrido de desnutrição, traumatismo craniano, estrangulamento e falta de tratamento médico no CECOT desde a sua inauguração. Muitas vezes, seus corpos são enterrados por funcionários do governo em valas comuns sem que as famílias sejam notificadas.
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