Uma cidade-fantasma, completamente abandonada, fica à beira do Rio Tapajós. Há 100 anos, no meio da floresta Amazônica, se iniciavam as construções de um megaprojeto: Fordlândia. A cidade foi idealizada por Henry Ford (da marca de carros) com o intuito de produzir látex para a indústria automobilística. A borracha viraria pneus, juntas, mangueiras e válvulas para os carros da empresa. Hoje, o espaço conta com ruínas de fábricas, máquinas e casas.
Para entender essa história, é preciso voltar para o século 19. Entre 1879 e 1912, as seringueiras paraenses produziam o melhor látex do mundo. As árvores amazônicas chegaram a produzir 95% da borracha mundial, abastecendo indústrias da América do Norte e da Europa.
- Relacionadas
Acontece que essas árvores cresciam de forma selvagem ao redor do rio Amazonas, e o extrativismo não tinha constância. Além disso, as plantações de seringueiras eram ilegais na região.
Nessa mesma época, Henry Wickham, um explorador britânico, contrabandeou 70 mil sementes da árvore para a Inglaterra e suas colônias. O roubo permitiria a plantação de seringueira em outros lugares, o que diminuiria a contribuição brasileira de látex para 2,3% da demanda global.
É nesse contexto que Henry Ford aparece. Em 1927, o magnata chega com promessas de reacender a Amazônia no cenário global. Esse seria um jeitinho de garantir controle de todas as matérias-primas necessárias para a fabricação dos carros, principalmente visto que a borracha europeia tinha preços fixos na época.

O americano ergueu a Fordlândia na beira do Rio Tapajós, no estado do Pará. Navios de carga levavam rio adentro carregamentos mobiliários e casas pré-fabricadas em Michigan, Estados Unidos. As casas deram origem ao bairro Villa Americana, onde havia água corrente, luz elétrica, hospitais, escolas, piscina, lojas, restaurantes e um salão de entretenimento, com bailes e filmes.
A fábrica de concreto se levantou e, por 18 anos, a cidade se manteve funcionando. Porém, o declínio era iminente: a produção de borracha brasileira já era bem menor do que a inglesa e a do sudeste asiático, que cobrava bem mais barato e acabou tomando o mercado da seringueira.

Somado às falhas econômicas, vieram as insatisfações dos trabalhadores: as regras da cidade eram rígidas demais (futebol e álcool, por exemplo, eram proibidos), a comida não agradava e os americanos estavam constantemente doentes por conta de doenças tropicais, como a febre amarela.
Fordlândia enfrentou dificuldades na produção de látex e foi abandonada por Henry Ford II, neto que assumiu controle nos anos 1940, após a popularização da borracha sintética. Apesar do nome cidade-fantasma, a vila conta com cerca de 1.200 habitantes, segundo dados do IBGE de 2010. A história deu filme e livro, e hoje em dia é contada em aulas de história ao redor do país.

Cadastro efetuado com sucesso!
Você receberá nossas newsletters pela manhã de segunda a sexta-feira.