O ouvido absoluto ou afinação absoluta é a capacidade de identificar notas musicais sem referência prévia. Se você toca uma única nota sem avisar de qual se trata, a maioria dos músicos não conseguirá identificá-la. Eles precisam que você toque um dó, por exemplo, para compará-las. É assim que os músicos afinam os instrumentos sem a necessidade de um afinador.
Os poucos que têm ouvido absoluto conseguem identificar qualquer nota de cara, sem qualquer referência anterior. Há muito tempo, acredita-se que esse é um dom raro, reservado a algumas pessoas com alguma capacidade congênita ou com treinamento excepcional. Entretanto, uma nova pesquisa, publicada hoje (12) na revista Psychonomic Bulletin & Review contesta essas versões.
O estudo envolveu um grupo diversificado de 12 músicos adultos, com níveis variados de experiência musical, que participaram de um programa de treinamento online de oito semanas. O treinamento envolveu algumas estratégias diferentes, como o reconhecimento de alturas de afinação específicas – ou seja, identificar notas exatas, como dó ou lá, de forma precisa.
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Mas o maior foco do treino foi na classe de afinação, que se refere à identidade da nota independentemente da oitava. Por exemplo: um dó tocado em diferentes oitavas ainda é reconhecido como dó, mesmo que a frequência exata varie. Isso reflete melhor a essência da afinação absoluta, que é reconhecer uma nota sem precisar compará-la com outra.
O teste final foi realizado diversas vezes para minimizar as chances de sucesso acidental, e os resultados demonstraram que os participantes fizeram um progresso significativo, aprendendo a identificar uma média de sete tons musicais com 90% de precisão ou mais.
Após oito semanas de treinamento, a precisão na nomeação de notas mais que dobrou, passando de 13,9% para 31,7%. O erro médio caiu 42,7%, indo de 2,62 para 1,50 semitons. A melhora foi maior para o timbre usado no treino, mas também houve algum progresso com sons diferentes, sugerindo que a habilidade pode ser desenvolvida além do contexto específico do treinamento.
Em especial, dois participantes alcançaram um desempenho rápido e preciso com todos os doze tons, comparável ao de pessoas que possuem essa habilidade naturalmente.
“Nossas descobertas fornecem evidências convincentes de que o tom absoluto não se limita a poucos. Com treinamento focado, os adultos podem adquirir essa habilidade notável, da mesma forma que aprendem outras habilidades cognitivas complexas.” disse, em comunicado, Yetta Wong, pesquisadora principal.
Alan Wong, coautor do estudo, acredita que a descoberta terá “implicações significativas para nossa compreensão da cognição e do aprendizado musical”. Para ele, a possibilidade de aprender a ter ouvido absoluto “abre portas para que músicos de todas as idades explorem e desenvolvam sua musicalidade em todo o seu potencial.”
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