Jim Jones nasceu no ano de 1931 em uma família pobre do estado interiorano de Indiana, nos EUA, e desde cedo se encantou com a pregação carismática dos evangélicos pentecostais. Tornou-se pastor e, em 1955, realizou o sonho da igreja própria ao fundar o Templo do Povo.
Era uma denominação democrática para os padrões da época: aceitava fiéis negros em pé de igualdade durante o auge da segregação racial nos EUA, o que atraiu elogios do movimento por direitos civis. O número de seguidores chegou a 3 mil.
Quando Jones mudou a congregação para a Califórnia, em 1970, cultivou laços com políticos influentes, se dedicou ao ativismo e à caridade e chegou a chefiar a Comissão de Habitação de São Francisco. Jones lia obras de líderes famosos de todas as estirpes ideológicas, de Gandhi a Hitler.
Foi o momento mais próspero de sua carreira. Ele tinha apoio da nata da esquerda: Angela Davis, Harvey Milk e os Panteras Negras, para citar alguns nomes, enviavam cartas e outras demonstrações de solidariedade, alheios ao fato de que o pastor, antes bem intencionado, estava escorregando para um fanatismo perigoso.
Nos bastidores, um caldeirão de militância, culto à personalidade e sincretismo cristão-new age começou a borbulhar. Ele criou uma doutrina revolucionária denominada Socialismo Apostólico, cujos fiéis eram instruídos a abandonar a propriedade privada e viver conforme os ditames marxistas.
Em 1971, a imprensa dos EUA começou a noticiar os rituais peculiares do Templo do Povo. Em 1972, o Conselho Estadual de Psicologia do Estado de Indiana pediu a Jones que apresentasse amostras do tecido biológico maligno que afirmava cair dos fiéis quando ele supostamente curava tumores em seus cultos cinematográficos.
Convicto de que as autoridades americanas conspiravam contra seu grupo, buscou refúgio com o regime de inspiração soviética que vigorava então na Guiana, a pequena ex-colônia britânica que faz fronteira com a região Norte do Brasil. Em 1974, comprou um terreno e começou a construção de um enclave amazônico.
Em 1977, quando finalmente se mudou para o lado sul do mapa, convenceu mais de 900 seguidores a irem com ele para estrear a nova comuna equatorial – apelidada de Jonestown, mas batizada oficialmente de Projeto Agrícola do Templo do Povo.
Como prova de dedicação cega, os fiéis eram forçados a escrever cartas admitindo crimes que jamais haviam cometido. Jones guardava essa correspondência para chantageá-los caso decidissem sair da seita um dia. Algumas admitiam atos hediondos, como abusar sexualmente dos próprios filhos.
De tempos em tempos, ocorriam as chamadas Noites Brancas: Jones anunciava que agentes do FBI, da CIA ou de algum outro órgão haviam chegado à Guiana e estavam prontos para tomar a comuna de assalto. Os seguidores pegavam em armas e se engajavam em rezas coletivas apoteóticas para expulsá-los.
Eram simulações, mas os fiéis não eram informados disso de antemão. Um desses treinamentos involuntários chegou a durar seis dias. Todos sofriam com a desnutrição: comiam apenas arroz e feijão todos os dias, em todas as refeições. Às vezes, a água do cozimento do arroz fazia as vezes de sopa.

No começo de 1978, a paranoia se concretizou. Primeiro, dois diplomatas americanos pousaram na Guiana para verificar as condições de vida no local. Abusos de direitos humanos já eram rotina: os famintos eram submetidos a uma rotina exaustiva de trabalhos forçados, à moda dos gulags soviéticos. Desertores eram ameaçados ou mortos.
Mais tarde, em 18 de novembro, um congressista californiano chamado Leo Ryan chegou à Guiana com um delegação numerosa de jornalistas e familiares de fiéis, desesperados com a adesão de seus parentes ao culto. Havia, inclusive, câmeras da emissora NBC.
Ele recebeu o grupo e deixou a visita acontecer sem percalços. Poucas horas depois, preocupado com a repercussão midiática, ordenou que seus guardas interceptassem Ryan e sua comitiva no aeroporto próximo, onde eles estavam embarcando de volta para os EUA.
Eles dispararam contra os aviões e mataram cinco pessoas, inclusive Ryan. Os sobreviventes escaparam, e Jones se deu conta de que a próxima visita não seria pacífica. Em seu delírio, concluiu que a única saída era morrer com honra, e forçou a comuna a um suicídio coletivo.
Jones misturou o veneno cianeto e uma série de outras drogas perigosas em um grande tanque metálico e adicionou refresco de uva em pó para amenizar o sabor. Então, ordenou que todos bebessem e forçassem seus filhos a beber também. 909 pessoas morreram, 276 eram menores de idade.
Não se sabe quantas das vítimas de fato se voluntariaram para o suicído coletivo. Relatos de sobreviventes dão conta de que alguns membros da comuna beberam o refresco com resignação ou até convicção, mas outros tentaram escapar.
Posteriormente, os peritos encontraram buracos de injeção nas costas de vários dos cadáveres, o que sugere que os desertores foram assassinados pelos guardas com seringas. Os bebês morriam em apenas 5 minutos, enquanto os adultos levavam algo entre 20 e 30 minutos.
Até hoje, em inglês, a expressão equivalente a “Maria vai com as outras” é don’t drink the Kool-Aid – “não beba o Kool-Aid” –, sendo Kool-Aid uma marca americana de fama equivalente à Tang no Brasil. Apesar da brincadeira macabra, o pó que Jones realmente usou era de outra marca, a Flavor Aid.
Jones se matou com um tiro na cabeça, e deixou para trás uma gravação de áudio macabra, de 44 minutos, que registra seu último discurso aos fiéis com o choro e a gritaria dos moribundos ao fundo. Ele ordenou, em seu testamento, que todas as posses e aplicações financeiras do Templo do Povo fossem oferecidas à embaixada soviética em Georgetown, a capital guianense.
Vários dos militares americanos que embalaram e carregam os corpos até aviões de carga desenvolveram casos graves de estresse pós-traumático.
Até hoje, o massacre de Jonestown permanece o evento mais conhecido do imaginário popular dos EUA: a Gallup, uma empresa de pesquisas de opinião pública, determinou que 98% da população do país se lembra do caso, mais do que qualquer outro acontecimento que já havia sido alvo de uma enquete.