Riachuelo lança camiseta produzida com algodão agroecológico, em projeto que resgata a cultura local e impulsiona a sustentabilidade Presente na bandeira do Rio Grande do Norte, o algodão carrega a memória do passado e, agora, está no centro de um projeto que redesenha a rota da moda nacional. O Instituto Riachuelo, criado com a missão de mudar vidas, lidera uma iniciativa de grande relevância não apenas para o desenvolvimento sustentável da região, mas para todo o setor: o algodão agroecológico. A gestora da instituição, Renata Fonseca, destaca o significado dessa retomada: “Digo que minha vida foi transformada antes mesmo de transformar a vida dessas pessoas.”
A agroecologia promove a diversidade no cultivo por meio do uso de compostos orgânicos, e tem como produtos alimentos livres de transgênicos e pesticidas. Nesse contexto, o algodão agroecológico se destaca por seu cultivo livre de agrotóxicos, que usa exclusivamente biofertilizantes e defensivos naturais. Pioneira em agroecologia no Brasil, Ana Maria Primavesi dizia: “O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e a nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio.” Seguindo essa filosofia, esse modelo produtivo trabalha de forma integrada, promovendo a saúde da terra, do território, dos animais e das pessoas que cultivam e consomem esses produtos.
Embora o algodão convencional seja frequentemente associado à sustentabilidade por ser uma fibra natural, a realidade da produção brasileira mostra um cenário diferente. Mais de 99% do algodão cultivado no país segue um modelo de monocultura em larga escala, que ignora a sociobiodiversidade e utiliza sementes transgênicas, além de um alto volume de agrotóxicos — permitidos no Brasil em quantidades até 600 vezes maiores do que na Europa (dado retirado do livro Agrotóxicos e colonialismo químico, de Larissa Bombardi)
Luiz Reno Pinheiro, Antônio Augusto da Silva e Aline Caline Medeiros Araújo, produtores de algodão agroecológico
Divulgação
Na contramão desse modelo convencional, a iniciativa da Riachuelo busca impulsionar o desenvolvimento sustentável da região ao resgatar a cotonicultura, cuja produção foi devastada nos anos 1980 pela praga do bicudo-do-algodoeiro. “Hoje, por meio da agroecologia, tudo é aproveitado, até a semente do algodão, que é rica em proteína e serve de alimento para o gado”, complementa Renata.
A Embrapa, parceira técnica do projeto, contribuiu com a metodologia de cultivo, enquanto o Sebrae ficou responsável por replicá-la e acompanhar os agricultores, explica a diretora de sustentabilidade da Riachuelo, Taciana Abreu. “Esse projeto vem crescendo. Só neste ano, já temos 30 novos agricultores. É uma iniciativa piloto regional, que estamos escalando de forma participativa. Nossa grande sacada foi nos comprometermos a comprar 100% de toda a produção. Dessa forma, oferecemos a segurança necessária para o agricultor, reduzindo seus riscos financeiros.”
O impacto dessa decisão tem sido transformador, relata Taciana. “Temos o exemplo da dona Maria Azevedo de Brito, uma das agricultoras, que inclusive possui um vasto conhecimento sobre plantas medicinais. Antes de entrar no projeto, ela estava com a conta de luz atrasada, mas, com a segurança da venda do algodão, conseguiu se organizar financeiramente. Hoje, ela tem um painel solar e produz sua própria energia. O desenvolvimento sustentável está acontecendo na prática.”
Para garantir o crescimento dessa iniciativa a longo prazo, é fundamental um maior engajamento político. Segundo relatório da Textile Eschange, a agroecologia representa atualmente menos de 1% da produção global, enquanto o agronegócio em larga escala recebe subsídios e incentivos governamentais. “Um caminho para o futuro é conectar iniciativas que trabalham com produções regionais e fortalecer a agroecologia como política pública. Investir nesse modelo produtivo pode trazer equilíbrio ao ecossistema, promover a regeneração da Caatinga — um bioma altamente pressionado pelo desmatamento — e impulsionar a sustentabilidade no setor. A médio prazo, vejo um grande potencial para articular mais incentivos para essa produção”, analisa Taciana.
Maria Azevedo de Brito, agricultora
Lara Dias
Com a primeira safra do algodão agroecológico, a Riachuelo confeccionou camisetas para o camarote Expresso 2222 no Carnaval de Salvador, com produção dividida entre João Pessoa (PA), onde foi feita a fiação, e Natal (RN). Em maio, o algodão agroecológico estará presente em uma linha de camisetas tingidas com pigmentos naturais, também produzidas localmente e disponíveis nas lojas da marca de todo o Brasil.
A indústria da moda precisa assumir compromissos mais sólidos com a descarbonização e a sustentabilidade de forma genuína. Esse projeto é um grande exemplo de como uma varejista pode impulsionar uma produção mais ecológica e, ao mesmo tempo, incentivar o setor a se tornar mais comprometido. Ao promover a saúde, integrando a população local e adotando métodos produtivos verdadeiramente sustentáveis, essa iniciativa representa um caminho regenerativo que deve servir de inspiração para outras marcas e projetos do setor.
A agroecologia promove a diversidade no cultivo por meio do uso de compostos orgânicos, e tem como produtos alimentos livres de transgênicos e pesticidas. Nesse contexto, o algodão agroecológico se destaca por seu cultivo livre de agrotóxicos, que usa exclusivamente biofertilizantes e defensivos naturais. Pioneira em agroecologia no Brasil, Ana Maria Primavesi dizia: “O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e a nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio.” Seguindo essa filosofia, esse modelo produtivo trabalha de forma integrada, promovendo a saúde da terra, do território, dos animais e das pessoas que cultivam e consomem esses produtos.
Embora o algodão convencional seja frequentemente associado à sustentabilidade por ser uma fibra natural, a realidade da produção brasileira mostra um cenário diferente. Mais de 99% do algodão cultivado no país segue um modelo de monocultura em larga escala, que ignora a sociobiodiversidade e utiliza sementes transgênicas, além de um alto volume de agrotóxicos — permitidos no Brasil em quantidades até 600 vezes maiores do que na Europa (dado retirado do livro Agrotóxicos e colonialismo químico, de Larissa Bombardi)
Luiz Reno Pinheiro, Antônio Augusto da Silva e Aline Caline Medeiros Araújo, produtores de algodão agroecológico
Divulgação
Na contramão desse modelo convencional, a iniciativa da Riachuelo busca impulsionar o desenvolvimento sustentável da região ao resgatar a cotonicultura, cuja produção foi devastada nos anos 1980 pela praga do bicudo-do-algodoeiro. “Hoje, por meio da agroecologia, tudo é aproveitado, até a semente do algodão, que é rica em proteína e serve de alimento para o gado”, complementa Renata.
A Embrapa, parceira técnica do projeto, contribuiu com a metodologia de cultivo, enquanto o Sebrae ficou responsável por replicá-la e acompanhar os agricultores, explica a diretora de sustentabilidade da Riachuelo, Taciana Abreu. “Esse projeto vem crescendo. Só neste ano, já temos 30 novos agricultores. É uma iniciativa piloto regional, que estamos escalando de forma participativa. Nossa grande sacada foi nos comprometermos a comprar 100% de toda a produção. Dessa forma, oferecemos a segurança necessária para o agricultor, reduzindo seus riscos financeiros.”
O impacto dessa decisão tem sido transformador, relata Taciana. “Temos o exemplo da dona Maria Azevedo de Brito, uma das agricultoras, que inclusive possui um vasto conhecimento sobre plantas medicinais. Antes de entrar no projeto, ela estava com a conta de luz atrasada, mas, com a segurança da venda do algodão, conseguiu se organizar financeiramente. Hoje, ela tem um painel solar e produz sua própria energia. O desenvolvimento sustentável está acontecendo na prática.”
Para garantir o crescimento dessa iniciativa a longo prazo, é fundamental um maior engajamento político. Segundo relatório da Textile Eschange, a agroecologia representa atualmente menos de 1% da produção global, enquanto o agronegócio em larga escala recebe subsídios e incentivos governamentais. “Um caminho para o futuro é conectar iniciativas que trabalham com produções regionais e fortalecer a agroecologia como política pública. Investir nesse modelo produtivo pode trazer equilíbrio ao ecossistema, promover a regeneração da Caatinga — um bioma altamente pressionado pelo desmatamento — e impulsionar a sustentabilidade no setor. A médio prazo, vejo um grande potencial para articular mais incentivos para essa produção”, analisa Taciana.
Maria Azevedo de Brito, agricultora
Lara Dias
Com a primeira safra do algodão agroecológico, a Riachuelo confeccionou camisetas para o camarote Expresso 2222 no Carnaval de Salvador, com produção dividida entre João Pessoa (PA), onde foi feita a fiação, e Natal (RN). Em maio, o algodão agroecológico estará presente em uma linha de camisetas tingidas com pigmentos naturais, também produzidas localmente e disponíveis nas lojas da marca de todo o Brasil.
A indústria da moda precisa assumir compromissos mais sólidos com a descarbonização e a sustentabilidade de forma genuína. Esse projeto é um grande exemplo de como uma varejista pode impulsionar uma produção mais ecológica e, ao mesmo tempo, incentivar o setor a se tornar mais comprometido. Ao promover a saúde, integrando a população local e adotando métodos produtivos verdadeiramente sustentáveis, essa iniciativa representa um caminho regenerativo que deve servir de inspiração para outras marcas e projetos do setor.