Filmes que pretendam arrastar espectadores — cada vez mais arredios — às salas de cinema precisam alimentar a percepção de que oferecem uma experiência cinematográfica que só funcionará plenamente na tela grande, na sala escura e na companhia de outras pessoas. Desde que a pandemia habituou o público a desfrutar comodamente da oferta infindável de longas-metragens e séries nas plataformas de streaming, o desafio envolve, em primeiro lugar, realizar algo que fuja da padronização e da mediocridade reinantes. Depois, é preciso criar na mídia e nas redes sociais uma narrativa que leve um nicho de público a pensar: “preciso ver isso”.
Ao cumprir muito bem as duas tarefas, Emilia Pérez,
Desde o início da história, diversas músicas — compostas por Camille e por Clément Ducol — atravessam a cena. Às vezes, um diálogo se transforma em canção, e a canção retorna quase imperceptivelmente à forma de diálogo. Em outras ocasiões, dezenas de figurantes se juntam aos protagonistas — a carismática personagem de Saldaña é a mais presente nesses momentos — em números coreográficos que provocam estranheza (e fascínio). Haverá quem os considere inadequados à situação, como se o gênero musical servisse para outros fins, mais leves e ligeiros, mas o que está em jogo também é a própria tradição do musical. O recurso lembra um pouco o aspecto incômodo e perturbador que o dinamarquês Lars von Trier propõe em Dançando no Escuro (2000) — um musical (ou antimusical?) sobre uma operária (Bjork) que perde gradativamente a visão e sofre, sofre, sofre.
Emilia Pérez é cinema que celebra o prazer narrativo, a gratificante recompensa do ingrediente surpresa para o andamento da trama, a piscadela de olhos para o espectador, a quem parece que o filme está conversando o tempo todo com a plateia. Ao mesmo tempo, como fazem Um Profeta e Deephan, é cinema que aspira se conectar com o debate social, incorporando temas da agenda política e comportamental do nosso tempo a uma estética que é também do nosso tempo. Fala de transformação, e portanto convida o espectador a contemplar-se no espelho. Não é pouco, hoje, ainda que se possa desgostar do resultado — o que sempre fez parte da experiência do cinema.
Quando estreia Emilia Pérez no Brasil?
Emilia Pérez estreia em 6 de fevereiro de 2025 no Brasil.
Quando será o Oscar 2025?
A cerimônia está marcada para 2 de março.