
O temporal com rajadas de vento que, em pouco mais de meia hora, despejou 100 milímetros de chuva sobre a cidade de Nova Europa, no interior de São Paulo, na noite de sábado, 15, é um fenômeno conhecido como microexplosão. A conclusão, da Defesa Civil do Estado de São Paulo, se baseia na análise de imagens de satélite e dos estragos, e de dados de estações meteorológicas próximas.
As rajadas de vento atingiram 85 km por hora e deixaram um rastro de destruição na cidade de 9,3 mil habitantes, que fica na região de Araraquara. Houve a queda de 12 muros, sete árvores e um portão, além de 25 casas destelhadas. Dois reservatórios de água e três postes caíram.
Quatro pessoas ficaram feridas, uma pela queda do portão, outra em um destelhamento, e duas em queda de árvore sobre um carro. Ao menos 30 pessoas ficaram desalojadas. Um posto de combustível foi interditado. A prefeitura decretou situação de emergência.
Conforme a Defesa Civil, a microexplosão é um fenômeno que na maioria das vezes está associado a uma célula de tempestade muito forte, porém difícil de ser registrada por aparelhos meteorológicos. Para chegar à conclusão, a Defesa Civil analisou as imagens de satélite e dos estragos, interpolando com dados de estações meteorológicas que forneceram a velocidade das rajadas.
Interpolar dados é uma técnica estatística que permite estimar ou prever valores desconhecidos com base em dados existentes. Assim, o órgão pôde afirmar que ocorreu uma microexplosão em Nova Europa.
A meteorologista Ana Maria de Avila, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que a microexplosão não acontece só no verão, mas em qualquer época do ano.
“Está associada a tempestades severas e é mais observada em estações de transição. Por exemplo: agora estamos saindo do verão e entrando no outono e começam a entrar massas de ar geralmente mais frias. Isso vai dando uma característica de variação térmica também, fazendo com que haja maior chance das tempestades severas ocorrerem.”
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O equipamento que consegue identificar exatamente uma microexplosão, assim como os tornados, é o radar meteorológico, desde que ocorra dentro de sua área de cobertura. Outra forma é se alguém fotografa, ou ainda pelas características, pelos danos que ocorreram, permitindo estimar o tipo de fenômeno.
Ainda segundo a pesquisadora, a microexplosão pode ocorrer em qualquer estação do ano. “Já tivemos em todas as estações do ano registros desse fenômeno. É um fenômeno raro, não é comum, mas também não é uma situação anômala, que nunca ocorre. Ocorre, mas com menos frequência do que, por exemplo, temporais, chuvas intensas, quaisquer outros eventos. Elas fazem parte daqueles eventos severos que não têm frequência tão alta, porém não são totalmente inesperados.”
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), na microexplosão – também conhecida pelo seu nome em inglês, downburst – uma corrente de vento forte e descendente se separa de uma nuvem de tempestade e se desloca com força em direção ao solo.
O fenômeno é diferente do tornado, quando os ventos em direção ao solo convergem, formando um redemoinho. O poder destrutivo, no entanto, é semelhante nos dois casos.
Em fevereiro do ano passado, moradores do bairro Conchal, em Sete Barras, no Vale do Ribeira, registraram uma nuvem em formato de cogumelo caindo como uma “bomba de água”, segundo a descrição deles. O fenômeno, também identificado por Ana de Ávila como microexplosão, destruiu 800 mil pés de banana.
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