Esses vídeos, que mostram pessoas tentando explicar seus sintomas, costumam alcançar centenas de milhares de visualizações, com seções de comentários inundadas por outras em busca de ajuda e respostas. “Só consigo descrever como pontadas”, conta a personal trainer e fundadora da marca de activewear This Is Sefi, Stefanie Williams. Williams, que compartilha regularmente sua jornada com a endometriose com seus milhões de seguidores no TikTok, Instagram e YouTube – e até documentou parte de sua cirurgia de tratamento em um vlog – recebeu o diagnóstico em 2017, mas começou a apresentar sintomas quatro anos antes.
“Antes de 2016, não havia nada muito perceptível”, diz ela, relembrando como passou grande parte da infância e adolescência praticando esportes em alto nível, inclusive em competições internacionais. “Eu era aquela que saía da sala de aula para jogar”, brinca. “Mas comecei a me sentir tão cansada que queria tirar cochilos no meio do dia, além das dores lancinantes no estômago. Depois, a qualidade da minha pele piorou e comecei a ter muitas espinhas.”
Esse ciclo de fadiga, dor e inflamação eventualmente levou Williams a buscar ajuda. “Fui ao clínico geral, mas saí me sentindo envergonhada por descrever o que estava sentindo”, compartilha. “Saí de lá me sentindo constrangida e desconfortável.” Só ao consultar um ginecologista seus sintomas foram levados a sério, o que levou ao diagnóstico de endometriose e miomas.
A experiência de Williams, infelizmente, não é incomum. Para Emily Maddick, editora assistente e diretora de entretenimento da Glamour UK, também houve um intervalo de quatro anos entre o início dos sintomas e o diagnóstico. “Em março de 2018, fui diagnosticada com endometriose após uma laparoscopia para remover o acúmulo.” Esse acúmulo é o tecido endometrial – o mesmo que normalmente reveste o útero. Quando ele cresce fora do útero, caracteriza a endometriose.
“Esse tecido pode crescer em locais como ovários, intestino, bexiga e, em casos raros, no peito ou no cérebro”, explica a Dra. Lafina Diamandis, médica generalista holística e fundadora da Deia Health. “O tecido endometrial é altamente sensível às variações hormonais e pode se romper e sangrar durante o ciclo menstrual, causando sintomas.”
A dor de Maddick era contínua e latejante, irradiando do ovário esquerdo de forma esporádica ao longo do mês. “Era particularmente intensa durante a ovulação ou a menstruação”, lembra, mencionando que, nos piores momentos, se espalhava por toda a pelve e região lombar. Ambas, Williams e Maddick, sempre valorizaram os benefícios do exercício físico – seja para o humor, energia, sono ou estresse – mas precisaram reformular completamente sua abordagem para lidar com os sintomas.
Como a endometriose pode afetar a prática de exercícios?
Além da dor, há ainda o cansaço extremo, inchaço e distensão abdominal, que podem tornar a ideia de se exercitar praticamente impossível para quem tem endometriose. Ironicamente, porém, o exercício pode ser uma das ferramentas mais eficazes para amenizar os sintomas. “O exercício pode ser um aliado poderoso no controle da endometriose, trazendo benefícios como alívio da dor, equilíbrio hormonal, melhora do humor e redução da fadiga”, diz a Dra. Diamandis.
No entanto, é essencial adaptar o tipo de exercício ao ciclo menstrual e aos níveis de energia. “Atividades de baixo impacto aliviam os sintomas sem sobrecarregar o corpo”, continua ela. “Já os treinos de alta intensidade podem causar crises, aumentar a inflamação ou piorar a dor pélvica. O segredo é ouvir o corpo e escolher movimentos que o apoiem, em vez de estressá-lo.”
Ambas as mulheres mudaram para exercícios predominantemente de baixo impacto. “Depois de anos levantando peso, comecei a incorporar Pilates na minha rotina e achei a mudança transformadora. Isso e caminhadas”, conta Williams. “Após minha cirurgia para remover um mioma, precisei mudar minha mentalidade para trabalhar com o meu corpo, e não contra ele.”
Maddick, que era uma corredora assídua desde os 20 e poucos anos, descobriu o Pilates aos 32. Ambos os exercícios, segundo ela, eram difíceis durante a menstruação. “Uma fisioterapeuta me aconselhou a não correr durante a menstruação, pois esse é um evento inflamatório que poderia agravar os sintomas da endometriose.” A natação, no entanto, nunca foi um problema para ela, e ela consegue nadar em qualquer fase do ciclo.
O treinamento de força tem diversos benefícios, desde melhorar a densidade óssea até aumentar a massa muscular, fortalecer a postura e melhorar o controle do assoalho pélvico. Para quem lida com as dores, mudanças corporais e flutuações de humor e energia causadas pela endometriose, porém, nem sempre é a melhor opção. “Atividades suaves, como caminhadas, natação, ioga e Pilates, ajudam a reduzir a dor, aumentar a energia e promover o bem-estar geral”, conclui a Dra. Diamandis.
“O segredo é escutar seu corpo – aproveite os dias bons para fortalecer, mas priorize alongamentos ou descanso durante crises. Evitar movimentos de alto impacto e focar no fortalecimento do assoalho pélvico também pode ajudar a prevenir desconfortos. O objetivo é encontrar uma forma de movimento que cure, em vez de prejudicar, então escolha exercícios que façam seu corpo se sentir bem e nutrido.”
Como apoiar o corpo por meio do movimento e da alimentação
Se há algo em comum entre os relatos, é que não existe um tratamento único para a endometriose – o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. No entanto, algumas mudanças na alimentação podem ajudar a controlar os sintomas.
Hannah Alderson, nutricionista registrada pela BANT, especialista em hormônios e autora de Everything I Know About Hormones: Six Steps to Optimal Health & Happiness, diz que seu foco principal para clientes com endometriose é reduzir a inflamação, apoiar o intestino, fortalecer o fígado e equilibrar o açúcar no sangue.
Priorize alimentos anti-inflamatórios: Peixes ricos em ômega-3 (salmão, truta, cavala, sardinha), folhas verdes, frutas vermelhas, cúrcuma e azeite extravirgem ajudam a reduzir a inflamação.
Evite alimentos ultraprocessados: Eles, juntamente com açúcar refinado e certos óleos, podem aumentar a inflamação.
Evite picos de açúcar no sangue: Oscilações glicêmicas podem causar fadiga e irritabilidade. O ideal é incluir proteínas, fibras coloridas e gorduras saudáveis em todas as refeições.
Não pule refeições e escolha carboidratos de absorção lenta: como quinoa, feijões, leguminosas, batata-doce e aveia, em vez de carboidratos simples, como pão branco.
Apoie a saúde do fígado: O estrogênio em excesso pode agravar os sintomas, e o fígado tem um papel essencial na eliminação desse hormônio. Vegetais crucíferos, como brócolis, couve, couve de Bruxelas e repolho, ajudam nesse processo.
A Dra. Diamandis enfatiza que o tratamento da endometriose precisa ser holístico, combinando alimentação, movimento, sono e gerenciamento do estresse. “Priorizar o autocuidado e se conectar com amigos, família ou grupos de apoio também é essencial para o bem-estar emocional.”
Esta matéria foi originalmente publicada na Vogue UK.