Por mais que as jornadas épicas pelo oceano mais famosas sejam atribuídas aos gregos (alô, Ulisses), 34 milhões de anos atrás um outro grupo já fazia história nesse ramo: as iguanas. Algumas delas viajaram por mais de 8 mil quilômetros, da costa da América do Norte até Fiji, na Oceania. Biólogos acreditam que essa foi a maior dispersão transoceânica conhecida de qualquer vertebrado terrestre.
Existem mais de 2.100 espécies na subordem Iguania. A mais comum, aquela verdinha clássica, faz parte das iguanas do hemisfério ocidental, que se dividem em 45 espécies diferentes. Elas colonizaram ilhas por todo o Mar do Caribe e o arquipélago de Galápagos. Mesmo assim, nenhuma viagem caribenha se compara à ida a Fiji, um arquipélago a mais de 2,5 mil km do leste da Austrália.
A odisseia dos répteis já foi imaginada por diferentes caminhos: alguns cientistas supõem que elas chegaram por meio de pontes terrestres, à medida que o supercontinente do sul, Gondwana, se fragmentava. Outra teoria é que as iguanas flutuavam em “jangadas” de galhos de árvores ou outros detritos da América do Sul.
Buscando resolver o mistério, pesquisadores compararam os genomas de iguanas do gênero Brachylophus, encontradas em Fiji, com genes de espécies das Américas. A resposta mostrou um parentesco mais próximo entre os animais do sudoeste da América do Norte.
“Comparados a outras iguanas, ambos são relativamente esbeltos em formato corporal, e também têm algumas semelhanças esqueléticas, como a morfologia dos dentes”, disse Simon Scarpetta, um biólogo evolucionista da Universidade de São Francisco, para o jornal The New York Times.
Para os pesquisadores do estudo, que publicado na revista PNAS, o início da ramificação da árvore genealógica começou há cerca de 34 milhões de anos. Acontece que, neste período, o supercontinente já estava fragmentado, o que dá força para a teoria de que os répteis foram parar a 8 mil km de casa flutuando em vegetações.
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“Que elas tenham chegado a Fiji diretamente da América do Norte parece loucura”, disse em comunicado Jimmy McGuire, herpetólogo da Universidade da Califórnia, Berkeley, e autor do estudo. “Assim que a terra apareceu onde Fiji agora reside, essas iguanas podem tê-la colonizado. Independentemente do momento real da dispersão, o evento em si foi espetacular.”
Chegar em Fiji hoje, de barco, partindo da Austrália, demora no mínimo uma semana. Velejando em tapetes de gramíneas teria demorado, segundo os pesquisadores, de três a quatro meses. Essa é a duração da hibernação de inverno desses répteis, o que significa que os lagartos poderiam ter feito a viagem sem morrer de fome – e, mesmo que sentissem, poderiam se alimentar com partes do barco improvisado.
Além disso, Scarpetta observa que as iguanas são bastante resistentes ao calor. “Se você tivesse que pensar em um grupo de vertebrados que pudesse sobreviver a um evento de rafting por milhares de quilômetros de oceano aberto”, ele diz em comunicado, “as iguanas são uma ótima escolha”.
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