Há diversos motivos pelos quais um casal não consegue engravidar. Ao investigar as razões para isso, é possível que o homem descubra o diagnóstico de azoospermia, condição que ocorre quando não há espermatozoides no sêmen. O problema atinge 1% dos homens mundialmente, e tem algumas possíveis soluções, como tratamentos hormonais e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas.
Agora, uma nova abordagem está sendo testada em um paciente de nos Estados Unidos. Um homem com azoospermia que não foi identificado publicamente, com cerca de 20 anos de idade, recebeu um transplante de suas próprias células-tronco produtoras de esperma, que estavam congeladas desde a infância.
Essas células-tronco ficam armazenadas nos testículos antes mesmo da puberdade. Quando amadurecem e recebem a surra de testosterona da puberdade, elas se transformam em espermatozoides, as células reprodutivas masculinas. Condições médicas de nascença e tratamentos como a quimioterapia podem danificar essas células ou evitar que se tornem espermatozoides, levando à infertilidade.
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Caso um paciente queira preservar as células-tronco formadoras de esperma para uso futuro, é possível retirá-las com uma agulha guiada por ultrassom inserida na base do escroto. Depois, elas são congeladas (assim como algumas mulheres fazem com seus óvulos). Foi isso que aconteceu com o paciente em questão, que passou por esse procedimento quando criança, antes de se submeter à quimioterapia para câncer ósseo.
A ideia é que, anos mais tarde, os médicos possam reintroduzir as células-tronco perservadas na rete testis – uma rede de pequenos tubos que se conecta aos túbulos seminíferos, onde os espermatozoides são normalmente produzidos. Lá, elas devem amadurecer como fariam naturalmente, imitando o processo que ocorre durante a puberdade.
O método já foi testado em camundongos e macacos, com bons resultados. Se bem-sucedida, a técnica poderia ser especialmente útil para sobreviventes de câncer tratados antes da puberdade ou homens com insuficiência testicular genética ou adquirida.
O transplante do paciente ocorreu há mais de um ano. O procedimento e os resultados foram descritos em um pré-print (ou seja, que ainda não foi revisado por outros especialistas) disponibilizado na plataforma Medrxiv. O paciente fornece amostras de sêmen para os pesquisadores periodicamente, mas nenhuma mostrou mudanças significativas. Por um lado, isso é bom, pois mostra que não houve mudanças hormonais. Por outro, é uma frustração, pois ainda não há produção de espermatozoides.
Os médicos acreditam que isso pode estar relacionado com a pequena quantidade de células-tronco que foram coletadas quando ele era criança. Caso os espermatozoides nunca apareçam no sêmen do paciente, mas ele ainda queira ter filhos biológicos, os médicos poderão tentar recuperar cirurgicamente qualquer pequena quantidade de espermatozoides que tenha sido produzida pelas células-tronco.
Como ocorre em outros procedimentos médicos, o transplantes de células-tronco envolve certos riscos. Uma possibilidade é que parte das células transplantadas contenha mutações genéticas associadas ao câncer, podendo originar tumores no futuro — especialmente em pessoas que já tiveram leucemia. Além disso, mesmo quando se utilizam células do próprio paciente, existe um risco teórico de resposta do sistema imunológico, que pode gerar inflamação.
Há também preocupações éticas em relação ao congelamento das células-tronco do esperma de meninos jovens. O consentimento necessário para esse tipo de procedimento exige que o paciente entenda os possíveis riscos e benefícios e que tenha clareza sobre o que significa o armazenamento de longo prazo das suas células. Nada disso é plenamente possível com crianças.
É um método promissor – mas ainda com muitas dúvidas, e sem nenhuma garantia.
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