
Por Lucila Sigal
BUENOS AIRES (Reuters) – O padre argentino Guillermo Marcó, um aliado próximo do papa Francisco e seu porta-voz durante anos, quando ele era arcebispo de Buenos Aires, está confiante de que a iniciativa do pontífice de abrir e modernizar a Igreja Católica perdurará após sua morte.
O papa Francisco morreu na segunda-feira, aos 88 anos, em decorrência de um derrame e insuficiência cardíaca, e seu funeral será realizado no sábado. Um novo papa será eleito nas próximas semanas, embora, por enquanto, não haja um favorito claro para sucedê-lo.
O maior ponto de interrogação é se o próximo papa dará continuidade às reformas liberais iniciadas por Francisco que causaram divisões no Vaticano e fora dele, ou se conduzirá a Igreja novamente em uma direção mais conservadora.
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“Acredito que não há como voltar atrás”, disse Marcó, porta-voz do então cardeal Jorge Bergoglio por nove anos, à Reuters em Buenos Aires na terça-feira, acrescentando que o bloco de mentalidade conservadora no Vaticano “não tem muito quórum atualmente”.
“Ninguém quer voltar a uma Igreja mais severa, mais fechada, que exclui as pessoas, mas sim uma Igreja mais calorosa, mais misericordiosa, mais aberta a todos”, declarou o padre, que permaneceu próximo ao papa Francisco até sua morte.
Marcó, assim como outros, apontou que Francisco, primeiro papa latino-americano, nomeou cerca de 80% dos cardeais eleitores que escolherão o próximo pontífice, fato que lhe deu “controle absoluto” e tornou a continuidade mais provável.
O conclave para eleger um novo papa geralmente é realizado entre 15 e 20 dias após a morte de um pontífice. Cerca de 135 cardeais podem participar de uma votação secreta que pode durar vários dias.
“PAPA DA FAVELA”
Francisco, um fã de futebol que nunca mais voltou à Argentina depois de se tornar papa em 2013, era conhecido por promover o diálogo inter-religioso, defender os pobres e os imigrantes e viver com humildade. Ele ganhou o apelido de “papa da favela” em sua Argentina natal.
“A maioria dos cardeais foi nomeada pelo papa Francisco, e ele sempre teve o perfil de estar muito próximo dos pobres”, disse Adalberto Martínez, cardeal paraguaio nomeado por Francisco em 2022, a repórteres em Assunção nesta semana.
“Ele nos deixa um legado e um ensinamento que permanecerá e que devemos continuar”, acrescentou Martínez, que estará em Roma para o funeral do papa e participará do conclave.
Jorge Garcia, arcebispo de Buenos Aires, disse durante uma missa para o papa que a grande força do pontífice foi promover reformas duras mesmo com oposição.
“Ele não escondeu a necessidade de transparência na Igreja, a necessidade de reformas na Igreja que eram desejadas há muito tempo”, declarou ele. “Talvez por esse motivo ele tenha sido tão criticado, porque não varreu os problemas para debaixo do tapete, mas os colocou sobre a mesa.”
(Reportagem adicional de Daniela Desantis)
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