Acabei de voltar de dez dias de férias com meu marido e pude me lembrar de algo precioso: fazer coisas sem nenhuma função. Pode parecer simples, até óbvio, mas para muitas mulheres, isso é um exercício quase radical.
Tenho me desafiado a abrir na agenda momentos que não são para produzir, resolver ou aproveitar o tempo. São pausas para fazer algo – ou nada – sem a lógica da utilidade. Deitar na rede, um passeio sem rota, uma leitura que não ensina nada. Porque o que percebo (e vejo refletido em muitas outras mulheres) é que fomos nos tornando fazedoras profissionais. Aprendemos a otimizar cada segundo. A transformar o descanso em estratégia. O lazer em networking. A diversão em conteúdo. A unir o útil ao agradável – e, sem perceber, a deixar o agradável sem valor.
Esse é um risco silencioso: o prazer que não serve para nada começa a ser descartado. E com ele, vai embora também uma parte essencial da nossa humanidade – e do nosso modo de criação.
Estudos de universidades como Harvard e USC mostram que o cérebro precisa de tempo ocioso – o chamado modo default – para acessar estados de criatividade profunda. Um artigo publicado na revista Scientific American explica que esse modo, ativado justamente quando não estamos focadas em nenhuma tarefa, é responsável por processamentos internos complexos, como reflexões, conexões inesperadas e insights criativos. Ou seja: o ócio é fértil.
E isso é ainda mais urgente para mulheres, que historicamente foram socializadas para o cuidado, a entrega e o desempenho. Nos tornamos especialistas em cuidar de tudo, menos de nós mesmas. A escassez de tempo, somada à cultura da performance, vai silenciando nossa capacidade de brincar, de explorar, de SENTIR.
Mas o sentir é estratégico. Quando estamos nutridas, voltamos a enxergar com leveza. Voltamos a ser criativas. Voltamos a ter prazer no que fazemos e, paradoxalmente, até nos tornamos mais produtivas – mas não porque produzimos mais, e sim porque voltamos a ver sentido no que fazemos.
Por isso, minha proposta é simples (e ao mesmo tempo revolucionária): nutra-se sem função. Cultive um hobby inútil. Faça algo só porque te dá vontade. Leia um livro que não te ensina nada. Deixe o tempo passar sem otimizar cada segundo. Porque é nesse terreno fértil e despretensioso que as ideias mais incríveis costumam nascer.
Não estou dizendo para abandonarmos o estudo, o trabalho ou a dedicação. Mas sim para lembrarmos que a vida não é uma linha de produção. E que talvez o caminho para uma vida significativa não seja fazer mais, mas sim sentir mais. E isso começa com o resgate do prazer que não serve para nada – mas que nutre TUDO.
Aproveite o descanso merecido de 1 de maio para o negócio mais importante da sua vida: VOCÊ!
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.
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