
A inatividade física – ou sedentarismo – não é apenas um problema de saúde, mas também um desafio econômico de grandes proporções. No Brasil, cerca de 47% da população é fisicamente inativa, um dos piores índices da América Latina. A falta de exercícios está diretamente associada ao avanço de doenças crônicas, como diabetes, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer, sendo reconhecida como um dos principais fatores de risco de mortalidade. As consequências vão além da saúde: o sedentarismo sobrecarrega o Sistema Único de Saúde (SUS), reduz a produtividade no trabalho e gera impactos financeiros expressivos.
O estudo “The economic burden of physical inactivity: a global analysis of major non-communicable diseases”, publicado na revista The Lancet em 2016, estimou que, em 2013, a inatividade física custou aproximadamente US$ 67,5 bilhões globalmente, considerando despesas médicas e perdas de produtividade. A pesquisa analisou dados de 142 países, abrangendo mais de 90% da população mundial, evidenciando como o sedentarismo afeta diretamente tanto a saúde pública quanto as economias nacionais.
O custo do sedentarismo para o sistema de saúde
O sedentarismo impõe um peso significativo aos gastos públicos de saúde. Em 2017, estimou-se que 17,4% dos custos do SUS com internações por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) foram atribuíveis à inatividade física, totalizando US$ 83 milhões (cerca de R$ 300 milhões). Esse montante inclui despesas com hospitalizações por infarto, AVC, diabetes tipo 2, hipertensão e cânceres relacionados ao sedentarismo.
Além dos custos hospitalares, há despesas crescentes com medicamentos e atendimentos ambulatoriais. Um estudo projetou que, se a taxa de sedentarismo no Brasil fosse reduzida pela metade, o sistema de saúde economizaria cerca de US$ 1,14 bilhão por ano com menores taxas de internações por diabetes tipo 2 e redução no uso de medicamentos para diabetes e hipertensão.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, entre 2020 e 2030, a inatividade física pode gerar 500 milhões de novos casos de DCNT, acarretando um custo global de US$ 300 bilhões até 203. Isso representa US$ 27 bilhões por ano em gastos extras com saúde pública no mundo todo.
No Brasil, onde metade da população é sedentária, esses custos tendem a ser ainda mais expressivos. Estratégias de prevenção, como políticas públicas de incentivo à atividade física, poderiam aliviar significativamente esse peso financeiro e melhorar a saúde da população a longo prazo.
O impacto econômico nas empresas: absenteísmo, produtividade e turnover
Além do sistema de saúde, o sedentarismo também impacta diretamente a economia ao reduzir a produtividade e aumentar o absenteísmo nas empresas. Funcionários sedentários têm maior propensão a desenvolver doenças crônicas e faltam ao trabalho 1 a 2 dias a mais por ano do que trabalhadores ativos. Em uma empresa de 1.000 funcionários, isso pode gerar mais de 1.000 dias de trabalho perdidos anualmente, resultando em prejuízos superiores a US$ 285 mil por ano.
Outro efeito negativo é o presenteísmo – quando o trabalhador está fisicamente presente, mas sua produtividade é reduzida por fadiga, dores musculares e dificuldades de concentração. Esse fenômeno afeta diretamente o desempenho e a lucratividade das empresas, embora seja difícil mensurar financeiramente.
Além disso, empresas com funcionários inativos tendem a ter custos mais altos com planos de saúde corporativos. Estudos mostram que trabalhadores sedentários utilizam mais serviços médicos, o que eleva o preço dos seguros de saúde empresariais e pode impactar diretamente os gastos operacionais das companhias.
Outro fator relevante é o turnover (rotatividade de funcionários). Profissionais com saúde comprometida tendem a se afastar do trabalho por períodos prolongados ou até se desligar das empresas, aumentando os custos de recrutamento e treinamento. Um ambiente que não promove a saúde do colaborador pode ter menor engajamento e retenção de talentos, impactando a competitividade empresarial.
Empresas que adotam programas de incentivo à atividade física – como ginástica laboral, convênios com academias e desafios esportivos – conseguem reduzir significativamente esses custos e melhorar o bem-estar dos funcionários. Além de diminuir o absenteísmo, tais iniciativas melhoram a satisfação no trabalho e aumentam a produtividade.
Comparação global: quanto o sedentarismo custa no mundo
O impacto econômico da inatividade física não é exclusividade do Brasil. Em nível mundial, o sedentarismo foi estimado como responsável por um custo de US$ 67,5 bilhões em 2013, somando despesas de saúde e perdas de produtividade. Desse total:
• US$ 53,8 bilhões foram gastos diretamente em tratamentos médicos.
• US$ 13,7 bilhões foram perdas de produtividade devido a mortes prematuras.
Nos Estados Unidos, a inatividade física está associada a um custo de US$ 117 bilhões anuais em gastos com saúde, representando 11% de todas as despesas médicas do país. No Reino Unido, o impacto financeiro chega a £1,1 bilhão anuais para o sistema de saúde público.
Já na China, estima-se que a inatividade física contribua para um custo de US$ 5 bilhões anuais com doenças relacionadas, incluindo hipertensão e diabetes. No Canadá, o sedentarismo representou 3,7% dos gastos totais em saúde em 2009, somando aproximadamente US$ 5,3 bilhões naquele ano.
Esses dados reforçam que o problema não se limita ao Brasil, mas tem implicações econômicas globais. Países que investem em políticas públicas para promover atividade física conseguem reduzir esses custos e melhorar a saúde da população.
O mais importante é que a inatividade física custa caro e pode ser evitada
A inatividade física é um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade e representa um impacto financeiro significativo para governos e empresas. No Brasil, o sedentarismo sobrecarrega o SUS, aumenta os custos das empresas e reduz a produtividade da força de trabalho.
A boa notícia é que esse problema pode ser mitigado. Investimentos em programas de atividade física, tanto no setor público quanto no privado, trazem retorno financeiro comprovado. Empresas que incentivam hábitos saudáveis entre seus funcionários colhem benefícios como menor absenteísmo, maior engajamento e aumento na retenção de talentos.
Para os governos, políticas de incentivo à prática esportiva podem aliviar o orçamento da saúde e reduzir o impacto das doenças crônicas no longo prazo. O sedentarismo não é apenas um problema de saúde – é um peso financeiro para toda a sociedade. Reverter essa situação é uma questão de eficiência econômica e qualidade de vida.
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