Autor de fantásticos desfiles (como o de inverno 2023, que aconteceu nos jardins do Palácio de Versalhes, com estética influenciada pelo impressionismo), Jacquemus revoluciona o processo de criação da imagem-moda de hoje.
Getty Images, Launchmetrics Spotlight, Reprodução/Instagram, Divulgação
Termo usado já há algum tempo, o significado e a importância do branding agora são imperativos. Trata-se da estratégia de gestão e direção de uma marca para torná-la mais conhecida, agregar valores e fazer com que seja cada vez mais desejada. Branding é o processo de criação e condução de uma identidade. Inclui todos os elementos visuais, como logotipos e design, e a definição e divulgação, de forma criativa e eficiente, dos valores e propósitos em questão. Em síntese, é o que faz uma marca ser o que é.
O equívoco mais comum é confundir branding com marketing, que promove produtos ou serviços específicos. Com conceitos e resultados diferentes, ambos são imprescindíveis e fundamentais para a imagem da marca. Quanto mais forte essa imagem, tanto melhor, com menos esforço de marketing ao introduzir novos produtos, o que é sinônimo de sucesso.
Autor de posts inéditos, sendo um dos mais famosos o de bolsas gigantes navegantes pela cidade, trabalhadas comefeitos especiais de computação gráfica 3D, Jacquemus revoluciona o processo de criação da imagem-moda de hoje.
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Especialmente na moda, todos esses componentes andam juntos e não é por acaso que a Chanel, por exemplo, se mantém como um das marcas mais poderosas da atualidade em termos de imagem. De identidade fortíssima desde os tempos de Gabrielle Chanel [1883-1971], é administrada com maestria pela família Wertheimer, sua única proprietária.
Durante 36 anos, a Chanel foi comandada por Karl Lagerfeld [1933-2019], que impulsionou a transformação da maison em uma mega marca global. Com a morte do estilista, há seis anos, Virginie Viard, que trabalhava com Lagerfeld, assumiu a tarefa, que ficou sob responsabilidade da equipe de designers da casa desde junho de 2024, quando Virginie deixou o posto. Em dezembro passado, a grife francesa finalmente anunciou o franco-belga Matthieu Blazy, 40 anos, como novo diretor artístico da Chanel.
O megashow Métiers d’Art da Chanel que aconteceu em Hangzhou, na China, um espetacular exemplo de branding. Pensada para criar uma experiência única para os principais clientes de um dos maiores mercados da marca francesa, a locação foi inspirada pela imagem de um biombo de laca Coromandel de Gabrielle Chanel, que os amava
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A nomeação de Blazy, ex-Bottega Veneta, segue-se a uma longa pesquisa, na qual a Chanel trabalhou arduamente para identificar o nome certo para revigorar a mensagem de impulso criativo adicional a sua vasta operação, baseada em uma imagem olímpica. Missão nada fácil, já que ficou evidente que Blazy está encarregado de conduzir a marca para uma nova direção, conservando a prestigiosa imagem e esquivando-se das atuais críticas.
“Temos confiança na capacidade de Matthieu para trazer uma a bordagem diferente para a Chanel”, disse Bruno Pavlovsky, diretor de moda da maison. “Ele tem respeito pela herança da imagem, e um design muito peculiar, em sintonia com as silhuetas do prêt-à-porter, além de criar bolsas e acessórios de que gostamos muito”, disse Pavlovsky.
Outra grife francesa, a Jacquemus, temsido, na última década, o case mais extraordinário de identidade e imagem de uma marca de moda contemporânea. Quando, aos 19 anos, em 2009, Simon Porte Jacquemus entrou em cena, surgiu com a força do branding baseado numa abordagem lúdica da moda parisiense. Diz se inspirar em esculturas, pinturas e fotografias do século 20, na bem-sucedida e inesquecível nouvelle vague do cinema francês e nas tardes ensolaradas do sul da França, onde nasceu. Suas criações logo o projetaram, assim como sua marca, ao estrelato, comcampanhas nunca antes vistas – e que se tornaram virais nas redes sociais e chegam a ser copiadas.
O branding, neste caso, já nasceu personalíssimo, bem-humorado e, tão importante quanto, digital. “O bom humor é criativo e afasta-se ligeiramente do sistema”, diz Jacquemus, que credita a essa identidade anticonvencional o motivo do sucesso de sua marca, além de sua capacidade de permanecer independente por 15 anos, comemorados no ano passado.
Apesar de suas lojas em Paris, Nova York e Londres estarem nas mesmas ruas das lojas de grandes grifes, os códigos do design são outros, se desvencilhando sutilmente da ideia de “luxo tradicional”. Isso porque o designer quer atrair não somente os compradores desse “ultraluxo”, mas também os consumidores da geração Z. “Queria fazer algo que todos pudessem entender para continuar crescendo”, diz.
Completamente diferentes, Chanel e Jacquemus mostram, na prática, como o branding é valioso e determinante nesse momento de mudanças. E enquanto fashionistas aguardam ansiosos a estreia de Matthieu Blazy na Chanel, em setembro, também reservam superatenção para o trabalho e as criações de Jacquemus, o que significa que as estratégias para reconquistar o interesse e seduzir via imagem terão táticas cada vez mais sofisticadas.