No dia 24 de outubro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova Iorque quebrou. Esse crash foi o gatilho para a pior crise econômica da história do capitalismo, a Grande Depressão. O período de recessão econômica, com altas taxas de desemprego e quedas de produtividade intensas, afetou muitos países ao redor do mundo e só foi acabar com a Segunda Guerra Mundial.
O presidente dos Estados Unidos quando a crise estourou era o republicano Herbert Hoover, que ficou no cargo entre 1929 e 1933. A batata quente da crise econômica mundial estourou no colo dele, e os atos mais marcantes de seu mandato foram tentativas de combater a Grande Depressão.
Nada deu muito certo: quem entrou para a história como o responsável por resolver a crise com o New Deal foi Franklin Delano Roosevelt, para quem Hoover perdeu a reeleição.
Uma das estratégias econômicas fracassadas de Hoover foi a Lei Tarifária Smoot-Hawley, assinada pelo presidente em 17 de junho de 1930. A medida tentou proteger a produção nacional dos Estados Unidos, aumentando as tarifas de produtos importados. As nações taxadas retaliaram, o comércio internacional caiu e as tarifas que deveriam aliviar a Grande Depressão só agravaram a crise.
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O tarifaço de 1930 tem algumas similaridades com os novos impostos sobre importações anunciados por Donald Trump, o republicano na presidência dos Estados Unidos quase cem anos depois de Hoover. Os produtos brasileiros vão ser taxados em 10%, valor mínimo das tarifas.
No caso da China, a taxa foi bem maior: 34%. O país asiático já anunciou que vai retaliar os novos impostos com sua própria tarifa de 34% para produtos estadunidenses.
Não dá para dizer que as tarifas de Trump terão os mesmos impactos negativos que a Lei Smoot-Hawley, mas a reação imediata não foi positiva: bolsas de valores do mundo todo despencaram depois do anúncio do presidente dos Estados Unidos, temendo a repercussão da decisão na economia mundial e uma possível guerra comercial de tarifas e contra-tarifas.
Entenda a história do tarifaço
Durante a década de 1920, os agricultores dos Estados Unidos estavam lidando com um excesso de oferta: produtos de outros países por preços baratos dificultavam a venda da produção nacional. Por isso, eles exigiam taxas sobre produtos importados. A causa foi assumida por Hoover em sua campanha presidencial em 1928, e virou um projeto de lei patrocinado pelos congressistas Reed Smoot e Willis Hawley (daí o nome).
O projeto, que originalmente tratava só dos desejos dos agricultores, acabou encampando demandas de vários setores da economia industrial americana por causa dos esforços de lobistas. A lei foi aprovada na Câmara dos Representantes (equivalente à nossa Câmara dos Deputados) antes mesmo do crash da bolsa, mas só passou pelo Senado e foi promulgada depois que a crise havia começado.
Na época, mais de mil economistas assinaram uma petição pedindo para Hoover vetar a lei. Até alguns empresários, como Henry Ford, criticaram a decisão. O setor mais progressista do Partido Republicano também foi contra a legislação protecionista.
No começo, parecia que a Lei Smoot-Hawley, que queria incentivar a produção e a criação de empregos, ia dar certo. O otimismo não durou muito tempo: entre 1929 e 1933, as exportações dos Estados Unidos caíram em 61%, piorando a vida dos agricultores que queriam que a lei fosse aprovada. O desemprego pulou de 8% para 25% no mesmo período de tempo.
O ato aumentou, em média, 20% as tarifas sobre mais de 20 mil produtos importados. Como as taxas já eram altas, alguns produtos importados chegaram a ter impostos de 40% a quase 60%. Alguns países, como o Canadá e a França, instituíram tarifas retaliatórias depois da Lei Smoot-Hawley.
Por isso, o resultado da estratégia de Hoover foi uma queda nas exportações americanas e um aumento de preços em plena recessão.
O comércio internacional como um todo piorou depois da Lei Smoot-Hawley. O isolacionismo dos Estados Unidos incentivou outros países a se fecharem no protecionismo, e isso intensificou a crise para todo mundo.
Na eleição de 1932, os democratas fizeram campanha prometendo tarifas mais baixas. Em 1934, já com Roosevelt na presidência, uma nova lei tarifária surgiu nos Estados Unidos, a Lei das Tarifas Recíprocas. A legislação mais liberal possibilitou a negociação de taxas entre os países, abaixando os impostos de importação altos da época de Hoover.
O contexto em que Trump institui sua nova política tarifária é bem diferente, sem uma Grande Depressão para ser agravada. Porém, muitos economistas continuam achando que a ideia não é boa. Não há crise, mas as tarifas poderiam ser o gatilho para uma, já que os preços devem ficar mais altos nos primeiros anos depois da decisão econômica e o desemprego pode aumentar.
Ainda não dá para saber o que vai acontecer com as tarifas de Trump, mas talvez uma aula de história poderia ter sido útil para o gabinete presidencial dos Estados Unidos. Como disse certo economista alemão, a história se repete “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
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