A poderosa voz de (1941-2017), em papel de despedida, como um pistoleiro aposentado. “O faroeste é o único gênero que se define pela ambientação, não de forma geográfica, mas com essa sensação de ausência de lei e ordem”, analisa Rassi.

Ao contrário das sagas clássicas dos cowboys de John Wayne ou Clint Eastwood, por exemplo, Oeste Outra Vez subverte o estilo cinematográfico. “O faroeste glorificou a violência até certo ponto, e nosso filme vai contra isso. Ele mostra como essa violência chega a ser patética. Não existe vencedor ali, são duelos em que ninguém sai ganhando, pelo contrário, todos terminam sozinhos”, pontua o realizador.
No filme, a cachaça é um artefato quase onipresente e que parece ter um aspecto medicinal para as feridas internas daqueles homens, moldados por uma “masculinidade embrutecida”, segundo define o cineasta. “Durante a minha pesquisa, vi que eles tinham uma relação muito forte com a bebida, funcionava meio que como mediadora das relações entre eles”, explica.
Ângelo Antônio, conhecido por filmes como 2 Filhos de Francisco (2005) e As Vidas de Chico Xavier (2010), além de papéis marcantes em telenovelas como Pantanal e Alma Gêmea, conta que se surpreendeu bastante ao ver o filme finalizado. “Eu não tinha a noção dessa ausência de mulheres ao ler o roteiro. Depois de pronto que eu fui entender a dimensão toda, como ele transcendia os valores masculinos, com esses sujeitos frágeis e violentos – acho que eles são violentos porque são frágeis”, afirma o intérprete de 60 anos.

Já Babu Santana, de 45 anos, ficou famoso pela atuação como Tim Maia na cinebiografia do cantor, de 2014. Depois, sua popularidade escalou após participação no reality Big Brother Brasil. “O que mais me surpreendi foi como o filme é bem humorado, apesar de uma temática tão séria, em tempos de debater o lugar do homem no mundo onde as mulheres estão se empoderando. Foi muito enriquecedor ver o filme pronto. Tivemos um curto orçamento, então precisamos nos unir pra que aquilo ali acontecesse, e essa união gerou uma amizade. Estou muito orgulhoso”, afirma.
Além das presenças essenciais de Antonio Pitanga, Adanilo Reis e Daniel Porpino no elenco, quem orbita em torno da dupla central é Rodger Rogério. O ator (e também cantor) cearense, de 81 anos, volta a brilhar nas telas após participar de Bacurau (2019), dessa vez na pele de um solitário capanga. “Ele traz uma serenidade no falar que é quase sinistra. O cara tá coroa, mas é perigoso. O tom dele é muito bom”, elogia Babu, antes de ser corroborado por Rassi. “Ele representa alguém que quer ser violento e não tem aptidão para aquilo”.
Por fim, Rassi salientou a importância da vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar 2025 e confirmou que pretende lançar seu longa internacionalmente. “Não me lembro de um momento tão favorável no cinema nacional como esse, muito graças ao efeito do filme de Walter Salles”, diz. “Vemos o público interessado novamente em consumir audiovisual brasileiro. Espero que não seja uma onda, mas sim um movimento de consolidação que beneficie todos os modos de produção”, finaliza.