O caseiro Jorge Avalo foi morto por uma onça-pintada na fazenda em que trabalhava, no Mato Grosso do Sul. Ele tinha 60 anos e foi atacado numa área isolada a cerca de 150 km da cidade de Miranda. Seus restos mortais foram encontrados um dia depois do evento, e a Polícia Militar Ambiental capturou a onça alguns dias depois para entender o que tinha causado o ataque violento.
Muitos motivos podem ter levado a onça-pintada a atacar o caseiro: escassez de alimento, comportamento defensivo, alguma atitude da vítima que pode ter involuntariamente provocado o animal ou mesmo estar em seu período reprodutivo, época em que os machos ficam mais agressivos.
O animal que devorou Jorge Avalo foi capturado pela Polícia Militar Ambiental para passar por exames e buscar o material biológico do caseiro na onça, para entender se ela foi mesmo a responsável pelo ataque.
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Quando foi encontrada pela perícia, já ficou claro que ela estava abaixo do peso e debilitada: um macho daquele tamanho deveria ter pelo menos 120 quilos, podendo chegar até 150, mas essa onça-pintada só tinha 94 quilos. Seu estado de saúde e sua magreza incomum podem ter contribuído para o ataque.
Um acontecimento desses é raríssimo: o último ataque fatal de uma onça-pintada no Pantanal foi em 2008, há 17 anos. Entenda os hábitos alimentares desses felinos – e por que uma prática ilegal, mas ainda praticada, pode incentivar as onças a pensar nos humanos como comida.
Prática ilegal pode facilitar ataques
A onça-pintada (Panthera onca) é um mamífero carnívoro, o terceiro maior felino do mundo, atrás do tigre e do leão. É um animal caçador: as onças são especialistas em emboscadas e atacar de surpresa. Mas suas presas geralmente não são humanos. Elas gostam de atacar herbívoros grandes, como gado doméstico.
As onças estão no topo da cadeia alimentar como predadoras, e elas são carnívoras obrigatórias: só podem se alimentar de carne. Teoricamente, qualquer vertebrado terrestre ou semiaquático pode constituir uma refeição.
As presas favoritas são jacarés, capivaras, antas, veados e tamanduás, mas também podem comer animais menores, como ratos, sapos e macacos, para matar a fome.
No Mato Grosso do Sul, área povoada por muitos pecuaristas, a base da alimentação das onças-pintadas consiste em bezerros. Depois que captura sua presa, normalmente com uma mordida que estraçalha qualquer crânio, o felino arrasta a carcaça até uma área segura e faz seu banquete.
As outras espécies do gênero Panthera costumam atacar mais seres humanos do que as onças-pintadas. Elas até costumam evitar o contato direto com pessoas, já que não as enxergam como presas. Um ataque como esse, que matou Jorge Avalo, não é o padrão.
Esses incidentes são mais comuns na Amazônia. Segundo a Universidade Federal do Amazonas, em dados divulgados pelo jornal O Globo, já aconteceram 64 ataques entre 1950 e 2018, principalmente contra caçadores. Mas mesmo assim é um evento raro: uma chance em 216 milhões, bem mais improvável do que morrer por um ataque de cachorro (uma chance em 3,8 milhões).
O que, então, pode causar um ataque como esse? Fome extrema da parte da onça pode ser um motivo, mas é improvável: apesar de estar abaixo do peso, o Pantanal oferece muitas presas naturais. Práticas humanas aparentemente inofensivas também podem facilitar os ataques de onça-pintada.
“Ceva” é a prática de atrair onças-pintadas com comida, normalmente para facilitar avistamentos do animal por turistas. Pode parecer inofensivo, mas é crime ambiental proibido no Mato Grosso do Sul desde 2011.
Quando as onças passam a ser alimentadas pelos humanos, elas perdem o receio natural que tem dos Homo sapiens. Isso não quer dizer que elas passam a considerar as pessoas como amigas, mas sim como comida.
Por trás da ceva está a ideia nociva e mentirosa de que as onças-pintadas podem ser amansadas e tratadas como pets, como se fossem gatinhos gigantes. Quando isso acontece, na verdade, elas só ficam mais agressivas.
De acordo com a Polícia Militar Ambiental, a ceva era praticada na área em que Jorge Avalo foi morto, mas ainda não se sabe se o caseiro também fazia isso. No último caso de ataque fatal no Pantanal, em 2008, também havia evidências de alimentação irregular.
Provavelmente não havia má-fé por parte do caseiro: ele já tinha até visto as pegadas do animal alguns dias atrás, mas se considerava seguro. O problema é que a onça-pintada continua sendo um animal selvagem, não importa quão bondoso você seja com ela.
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