Não foi só a sua rotina que mudou durante a pandemia de Covid-19: a quarentena também afetou os pets. Os gatos sentiram e absorveram as mudanças nas dinâmicas domésticas durante o confinamento, tanto para o bem quanto para o mal. É isso que mostra uma nova pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A médica veterinária Maíra Ingrit Gestrich-Frank investigou como as mudanças abruptas nas rotinas dos donos humanos impactaram as vidas dos gatos. Sua pesquisa de mestrado analisou três períodos: pré-pandemia, confinamento e pós-confinamento.
Ela usou um questionário online, enviado para tutores de gatos do Brasil todo, para avaliar o comportamento dos bichanos durante a pandemia.
Miados, mudanças no apetite, comportamentos destrutivos, cocô e xixi fora do lugar e lambedura excessiva registraram um leve aumento entre os gatos durante a pandemia. Mas nem tudo é negativo: alguns felinos chegaram a ficar mais afetuosos e brincalhões, como ela explica em sua dissertação.
- Relacionadas
O “escore ambiental”, medida de qualidade do ambiente para os gatos, também melhorou durante a pandemia. Isso se deve, especialmente, ao investimento que tutores fizeram para comprar brinquedos, áreas de descanso e arranhadores para os felinos, compensando a falta de liberdade.
Gatinhos mais carentes e donos mais presentes
O questionário tinha 31 questões e poderia ser respondido por participantes maiores de 18 anos que tivessem convivido com os gatos por pelo menos um mês antes do início da pandemia. Só os gatos com mais de dois anos foram incluídos na análise.
Com as respostas dos tutores de felinos, Maíra conseguiu identificar diferenças na vida dos gatos antes e depois do confinamento. No período pré-pandemia, mais gatos se encontravam no peso ideal. A obesidade felina cresceu com o sedentarismo dos meses de quarentena, sem a possibilidade de passear por aí.
Os gatinhos que tinham acesso ao ar livre apresentaram uma tendência menor ao ganho de peso.
O relacionamento entre os gatos e os donos mudou durante a pandemia. Vários deles ficaram mais carinhosos e mais empolgados para brincar, e o comportamento afetuoso continuou mesmo depois que os tutores voltaram à rotina normal.
Cada gato tem sua personalidade. Ao contrário do senso comum, eles não são necessariamente antissociais, e aqueles que tinham companhia constante apresentaram melhor qualidade de vida. Como vários dos felinos estavam mais carentes e os donos estavam sempre por perto, aumentaram as interações positivas entre humanos e gatos, como brincadeiras e carinhos.
Um estudo britânico de 2021, com mais de 5 mil donos de gatos, sugere a mesma coisa que a pesquisadora brasileira encontrou: os tutores de felinos relataram que eles ficaram mais afetuosos durante o lockdown.
Algumas dicas para os tutores que querem melhorar seu relacionamento com os gatinhos são garantir estruturas que os felinos possam escalar e arranhar, comportamentos naturais para eles, e estabelecer uma rotina de interações. Os gatos se sentem mais seguros quando os donos estabelecem hábitos nos mesmos horários, como sempre oferecer um petisco antes de sair de casa.
O estudo tem algumas limitações que a própria Maíra reconhece: todos os dados foram coletados em 2023, então às vezes a memória dos participantes não ajudava a conseguir as informações necessárias.
Novas pesquisas sobre o impacto do ambiente na saúde dos gatinhos podem ir além na compreensão dos fatores que determinam o relacionamento entre dono e pet.
Cadastro efetuado com sucesso!
Você receberá nossas newsletters pela manhã de segunda a sexta-feira.