SALVADOR – A Savana e a Montanha é um registro de mobilização popular contra a especulação capitalista. Faz parte da competição de longas internacionais do Panorama Coisa de Cinema. Define-se como documentário híbrido e é isso mesmo, já que interpretado pelas pessoas reais que tomam parte de uma luta difícil em defesa de suas terras e modo de vida.
A história se passa em Covas do Barroso, aldeia ao norte de Portugal, um reduto de vida pacata e comunitária em meio ao caos e anonimato das grandes cidades. O azar do pessoal de Covas do Barroso é que geólogos descobriram que suas terras são ricas em lítio. Eis aí um elemento em alta com o boom dos carros elétricos, já que é fundamental na fabricação de baterias. O mundo suspira pelo lítio. E o grande capital costuma ser muito “persuasivo” quando se trata de convencer que seu avanço é para o bem de todos, já que gerador de empregos, progresso e impostos. Em geral vence sem qualquer dificuldade, mesmo porque governos municipais e nacionais costumam se mostrar bastante sensíveis aos “argumentos” do capital.
O que não se contava, porém, era com a teimosia dos habitantes de Covas do Barroso, que não se deixam iludir pelas promessas de futuro bem-estar e põe mãos à obra na defesa do que lhes pertence. Sem mesmo hesitar no uso da violência, o que lhes parece justo para contrapor à violência do outro lado.
A opção do diretor Paulo Carneiro em usar as pessoas como atores de si mesmos dá muito resultado. Tudo parece natural e autêntico, ainda que não se possa cobrar desses amadores interpretações de nível shakespereano. Mas, como sabem muito bem do que estão falando e sentindo, compensam o amadorismo com o envolvimento emocional de sua justa batalha.
A luta continua em curso e com final indefinido. Mas, enfim, é muito bonito ver como não baixaram a cabeça diante desse poder do dinheiro, tido como incontrastável. Não se sabe do resultado desse esforço de resistência. Mas, como dizem os gaúchos, “não está morto quem peleia”.