Tutancâmon é provavelmente o faraó mais célebre do Egito Antigo. Ele fez parte da décima oitava dinastia, governando entre 1332 e 1323 a.C. Sua tumba foi descoberta e aberta em 1922 por pesquisadores britânicos. Sobre seu corpo mumificado, eles encontraram pétalas de um lírio conhecido popularmente como lótus azul. A flor também aparece como adorno em papiros, ilustrações em pedras e pinturas.
O nome científico dela é Nymphaea caerulea, uma planta aquática encontrada em lagos e rios no leste da África e no sul da Arábia. Graças aos registros arqueológicos, sabemos que essa era uma planta importante para a civilização do Egito Antigo. Pesquisadores acreditam que a flor era mergulhada em vinho para liberar propriedades psicoativas e ser usada em rituais.
Segundo Liam McEvoy, estudante de antropologia da UC Berkeley que conduziu um estudo sobre o tema, a lótus azul era usada em um festival celebrado anualmente em homenagem a Hathor, deusa do amor e sexualidade. No “Festival da Embriaguez”, as pessoas bebiam, desmaiavam e supostamente viam o rosto de Hathor por um momento.
McEvoy queria saber se a lótus azul usada nesses rituais de 3 mil anos são as mesmas vendidas online em sites como Etsy. A lótus azul também é encontrada em sites brasileiros, sob a alegação de que promove efeitos relaxantes e entorpecentes, podendo ser fumada ou infusionada em chás.
O estudante concluiu que a flor vendida hoje é provavelmente bem diferente daquela venerada pelos egípcios.
O primeiro passo foi encontrar uma Nymphaea caerulea legítima. McEvoy descobriu que a lótus azul autêntica se tornou bem rara, e hoje é uma espécie ameaçada. A construção da Represa de Assuã, no rio Nilo, mudou o habitat nativo da planta.
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Diversos jardins botânicos com os quais McEvoy entrou em contato não tinham o espécime. Então, ele fez o que qualquer pesquisador jovem faria: apelou para o Reddit. Em um fórum de discussão sobre a lótus azul, ele encontrou uma pessoa que dizia cultivar a planta autêntica. O estudante encomendou um espécime vivo – que botânicos da universidade confirmaram ser uma Nymphaea caerulea.
Na época de floração coletou as pétalas para serem analisadas em laboratório. Em paralelo, McEvoy também encomendou uma suposta lótus azul desidratada no site de vendas Etsy.
A Nymphaea caerulea autêntica contém uma alta concentração da molécula nuciferina, o alcaloide provavelmente responsável pelas propriedades psicoativas da planta. Ele interage com receptores do cérebro 5-HT, os mesmos em que atuam os psicodélicos clássicos.
Já a lótus azul comprada na Etsy apresentou níveis bem mais baixos de nuciferina. McEvoy acredita que as flores vendidas online, apesar de serem visualmente atraentes, são apenas lírios aquáticos normais, sem propriedades psicoativas.
“Aquilo vendido online não é a mesma coisa, e nossas descobertas sugerem que a lótus azul é realmente única em comparação a outros lírios aquáticos” disse o estudante em entrevista à UC Berkeley News. “É uma planta muito específica”.
McEvoy também queria saber se mergulhar as pétalas de lótus em vinho, como era supostamente feito pelos egípcios, seria suficiente para extrair a nuciferina. As pétalas têm uma camada de cera, que repele a água. O mais provável é que os egípcios usassem algum tipo de óleo ou lipídio para liberar o alcaloide e dissolvê-lo no vinho.
“Nossa hipótese é que eles criavam uma infusão de óleo, que depois era adicionada ao vinho”, diz o estudante. Para dar força à hipótese, McEvoy pretende fazer análises químicas em um cálice egípcio de 3 mil anos. Os testes podem revelar se há traços de moléculas de óleo no artefato.
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