Estado vegetativo e morte cerebral são coisas bem distintas – e nenhuma delas é entrar em coma. No dia a dia, essas categorias se confundem e são usadas de forma intercambiável, mas na UTI é necessário diferenciar essas expressões médicas.
A Super conversou com o neurocirurgião Sérgio Brasil, pós-doutor em neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e especialista em morte encefálica (termo clínico mais apropriado para a popular “morte cerebral”), para entender essas diferenças.
O estado vegetativo também tem outro nome: síndrome de vigília não responsiva. A partir desse termo, já dá para imaginar mais ou menos o que a expressão significa. Esse estado é caracterizado por uma falta de sinais de consciência. Uma pessoa em estado vegetativo está acordada, mas não está consciente.
“Isso quer dizer que ela pode abrir os olhos, respirar sozinha (ou com ajuda mínima), ter ciclos de sono e acordar — mas não interage com o ambiente e não demonstra perceber o que acontece ao redor”, explica Brasil. As funções superiores do cérebro, como a capacidade de pensar e se comunicar, foram perdidas. Respiração, batimentos cardíacos e outras funções básicas continuam funcionando.
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Qual é a diferença, então, entre um estado vegetativo e um coma? No estado vegetativo, a pessoa está acordada, mesmo que sem sinal de consciência. Seus olhos podem estar abertos, mas ela não entende o que está acontecendo.
Já no coma, há diferentes estágios de rebaixamento do nível de consciência. Na obnubilação, a pessoa está acordada, mas responde de forma mais lenta e confusa. No torpor, o paciente só reage a estímulos fortes, como gritos, sacudidas ou dor. No coma profundo, os olhos estão sempre fechados e não há sinais de que o corpo esteja alerta.
Em alguns casos, dá para sair do estado vegetativo. Se ele dura até quatro semanas, há uma chance maior de recuperação, principalmente se o cérebro não sofreu alguma lesão traumática, tipo uma pancada. Em casos sem traumatismo, depois de três meses a recuperação passa a ser muito improvável. Para casos com traumas, depois de 12 meses é bem difícil voltar ao normal. “Se a pessoa não recupera nenhuma consciência, chamamos de estado vegetativo permanente.”
Embora seja raro voltar do estado vegetativo, essa ainda é uma possibilidade. Depois da morte encefálica, não há qualquer chance de recuperação. Essa é “a parada completa e irreversível das funções do cérebro” – até daquelas que continuam funcionando no estado vegetativo, como as responsáveis pela respiração.
Mesmo que o corpo ainda apresente algumas funcionalidades operantes e continue com o coração batendo por auxílio de aparelhos, a morte cerebral significa que “a pessoa está morta do ponto de vista médico e legal”. A partir desse ponto, a família e os médicos podem decidir desligar os aparelhos que mantém os batimentos cardíacos. Por isso mesmo, esse é um diagnóstico sério e rigoroso que deve seguir várias etapas.
No Brasil, o diagnóstico de morte encefálica segue um regulamento muito específico do Conselho Federal de Medicina. A avaliação deve ser feita por dois médicos diferentes que não façam parte da equipe de transplante de órgãos. Há um intervalo de tempo que deve ser respeitado entre as avaliações, e varia de acordo com a idade do paciente.
A primeira coisa que um médico deve fazer é confirmar a causa do coma, para ter certeza se esse não é um caso reversível, como de intoxicação ou hipotermia. Depois, alguns testes neurológicos avaliam a ausência de reflexos do tronco cerebral. Uma forma de fazer isso é observar se as pupilas reagem à luz. Outro teste que é realizado é o de apneia, para confirmar se a pessoa não tenta respirar mesmo quando não há ventilação.
Exames complementares, como Doppler transcraniano (ultrassom que avalia o fluxo de sangue nas artérias cerebrais) e eletroencefalograma (que verifica a atividade elétrica cerebral), são usados para auxiliar o diagnóstico de morte encefálica. Só depois de todos esses passos que se pode fazer um decreto de morte cerebral.
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