No dia 17 de março, os irlandeses comemoram o Dia de São Patrício. É o feriado nacional que celebra o padroeiro da Irlanda, como a festa brasileira do Dia de Nossa Senhora Aparecida em 12 de outubro. Em países de tradição católica, é comum ter um padroeiro, que é como são chamados os santos protetores daquela região.
Hoje em dia, a festança de 17 de março envolve chapéus verdes, símbolos nacionais como trevos e leprechauns, cerveja verde e até um rio tingido de verde, que é a forma de Chicago de prestar homenagem à cultura irlandesa. Mas quase nada disso tem a ver com o santo que dá nome à festa, que morreu no dia do feriado, talvez no ano de 461.
Para começar, ele nem era irlandês, e muitas das lendas relacionadas a São Patrício não tem registro na tradição católica ou nos documentos do quinto século que sobreviveram.
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Conheça quem foi o santo católico que trabalhou para evangelizar a Irlanda e entenda como o Dia de São Patrício passou de um feriado religioso a uma festa de arromba celebrada não só na Irlanda, mas em diversos países com imigrantes irlandeses.
Quem foi São Patrício
Não se sabe quando Patrício nasceu, mas alguns estudiosos costumam falar de uma data por volta de 387. Seu local de nascimento também não é certo, mas ele provavelmente é originário do vilarejo de Banwen, no sul do País de Gales.
A infância de Patrício se deu durante os últimos anos de domínio romano na Grã-Bretanha. Seu pai provavelmente era um senador e coletor de impostos para Roma, e seu avô era um sacerdote cristão (sim, os padres podiam ter filhos: o celibato só foi instituído na Igreja Católica no século 12).
Patrício e seus vizinhos foram capturados aos 16 anos por piratas irlandeses e levados para a ilha da Irlanda como escravos. Ele mesmo conta isso, em seu livro Confissão de São Patrício. Ele passou seis anos longe de casa, trabalhando como pastor de ovelhas e orando enquanto cuidava do rebanho. Esse foi o momento essencial de desenvolvimento espiritual e cultural de Patrício: ele conheceu as tradições irlandesas e passou a valorizar a religião que tinha herdado dos pais.
Depois de escapar da escravidão e voltar para a Grã-Bretanha, Patrício continuou seus estudos sobre o cristianismo e virou um bispo. Era de se imaginar que o trauma da escravidão seria o suficiente para deixar Patrício longe da ilha até o fim de sua vida, mas não foi o que aconteceu. Ele sentiu que tinha a missão de converter os irlandeses.
A vida de missionário não foi fácil: ele apanhou, foi perseguido e arriscou voltar para a escravidão de sua juventude algumas vezes. Mas parece que deu certo: ele escreve que batizou milhares de pessoas e planejou converter até seus antigos escravizadores. Depois de três décadas, praticamente o país inteiro havia sido convertido.
Algumas das lendas mais difundidas sobre São Patrício apareceram séculos depois: tem gente que diz que ele protegeu a Irlanda jogando todas as cobras do país no mar. Isso nunca aconteceu porque simplesmente não havia cobras na Irlanda pré-moderna. O milagre provavelmente foi copiado da vida de outro santo.
Outra história apócrifa sobre São Patrício tem tudo a ver com a festa de 17 de março: o trevo, símbolo nacional da Irlanda, teria sido usado por ele para explicar a doutrina da Trindade para os irlandeses.
A professora Lisa Bitel, especialista em Irlanda Medieval, escreveu um artigo mostrando que os trevos eram uma tradição vulgar dos irlandeses, e só foram mencionados pela primeira vez em 1684. Tudo é verde no Dia de São Patrício por causa dos trevos.
Como surgiu a festa
Hoje, a Irlanda continua majoritariamente católica: 69% da população se identifica com a religião, de acordo com o censo de 2022. O segundo lugar na lista ficou com os não-religiosos, que representam 14% da população. Outras vertentes do cristianismo são seguidas por só 7% da população.
Apesar das estatísticas, a festa como é conhecida hoje não tem muito a ver com religião. Os imigrantes irlandeses, especialmente aqueles que foram para os Estados Unidos, começaram a usar a data para celebrar a cultura da Irlanda.
Boston teve seu primeiro desfile do Dia de São Patrício em 1737, e a comunidade irlandesa de Nova Iorque começou a celebrar o feriado com demonstrações públicas em 1762.
Essas celebrações estadunidenses só aumentaram no século 20, e foi a partir delas que a festa passou a ser comemorada ao redor do mundo – até na Irlanda, que adaptou suas celebrações ao padrão norte-americano de Dia de São Patrício para atrair turistas e começou a realizar desfiles só em 1903, quando a data se tornou um feriado público.
Dá para participar da celebração irlandesa em alguns pubs no Brasil, mas vale lembrar: pegue leve na festança, porque aqui não é feriado.
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