A novela Vale Tudo está de volta ao horário nobre da Globo, agora como remake. Apesar de a base da história e os nomes dos personagens serem praticamente os mesmos, muita coisa mudou de 1988 para 2025.
Os celulares e a internet, por exemplo, ainda demorariam muitos anos até serem popularizados no Brasil. Profissões, referências da cultura popular e até a moeda sofreram alterações nessas décadas.
Confira abaixo algumas cenas que foram ao ar na versão original da novela Vale Tudo que não fariam sentido hoje.
‘Dólar a 300’
Numa de suas primeiras aparições, a vilã Odete Roitman (Beatriz Segall) faz um desabafo – bem ao seu modo – à irmã, Celina (Nathália Timberg): “E eu que pensei que alguma coisa tivesse mudado nesse País! Mas é só botar o pé no Galeão [aeroporto] e você já começa a sentir esse calor horroroso, a gente horrível no caminho, parada, esperando os ônibus caquéticos, e o dólar a 300!”
O real não está bem valorizado em relação ao dólar, mas a cotação de um “dólar a 300” dificilmente vai aparecer numa Vale Tudo ambientada em tempos atuais. À época da exibição da novela, a moeda brasileira era o cruzado e o País ainda sofria com efeitos da inflação.
Telex
Ivan (Antonio Fagundes) é um profissional bem-sucedido mas, num momento de crise no Brasil, não consegue encontrar emprego. Após ouvir em algumas entrevistas que seria “muito qualificado” para os cargos aos quais se candidata, ele decide fazer um currículo mais simples e conquista uma vaga como operador de Telex.
As gerações mais recentes provavelmente nem sabem o que fazia alguém que trabalhava na função. No Estadão, em 2010, Luis Fernando Verissimo definia, de forma resumida e direta: “O telex era uma máquina de escrever infernal na qual se picotava uma fita, que depois passava por outra máquina, que a transmitia.” Nos tempos de e-mail e WhatsApp, faz sentido?

Computador x máquina de escrever
No capítulo 38, o recém-desempregado Bartolomeu (Cláudio Corrêa e Castro) consegue uma entrevista com Renato (Adryano Reys), o diretor da badalada revista Tomorrow. Jornalista experiente, busca vaga como redator. Ali lhe é oferecido o cargo de editor e tudo parece bem até que surge uma música de suspense e Renato aponta para uma máquina ao seu lado. Bartolomeu fica visivelmente desesperado: “Computador?!”
Atualmente, parece mais provável encontrar alguém que escreva um texto completo num smartphone do que numa máquina de escrever – o instrumento com o qual o jornalista estava acostumado. O diretor ainda comenta: “Já faz algum tempo que a Tomorrow arquivou as velhas máquinas de escrever. Agora, aqui, só trabalhamos com isso: processador de texto”. Bartolomeu mente: “Habituadíssimo”.

Fase do Botafogo
Logo no primeiro episódio, há uma cena em que o motorista Jarbas discute com o porteiro de um prédio, aparentemente botafoguense. Torcedor tricolor, ele brada: “O Botafogo tem time pra enfrentar o Fluminense?! O Botafogo era time na época do Garrincha, Pampolini, Nilton Santos… Há 20 anos que vocês não ganham título. Não ganham de ninguém!”.
Hoje o comentário dificilmente traria o mesmo impacto: há poucos meses, o Botafogo foi campeão da Libertadores e do Brasileirão, vivendo uma das melhores fases de sua história. Jarbas, inclusive, é outro personagem que reflete as mudanças do tempo: no remake, é um motorista de aplicativo (agora vivido por Leandro Firmino).
Swann
Para valorizar a importância de uma festa na qual estariam integrantes da revista Tomorrow, uma personagem cita que o evento era tão relevante que apareceu “no Swann”. Trata-se de uma referência à coluna de mesmo nome publicada no jornal O Globo por décadas que, entre outros, trouxe diversos furos da vida social do Rio de Janeiro. O espaço, porém, chegou ao fim de 1997. Caso o remake use uma referência semelhante, provavelmente seria atualizada.